(co)move a travessia
Sem repente
nem enredo
Dilata meu zinco.
Durante o coro de abertura da Paixão Segundo São Mateus formaram-se à minha frente verdadeiras montanhas de dor.
Rainer Maria Rilke, 1920
Johann Sebastian Bach é o começo e fim de toda a música [...] Como fenômeno criador, ele representa o fim de uma época da história da música, o barroco, mas também mais do que isso: Bach é a síntese de toda a música que o precedeu e é, sem dúvida alguma, a chave para toda a música que veio depois.
Günther Ramin, 1954
Esta letra é apenas uma das grandes obras de Geraldo Filme, conhecido como Enciclopédia do Samba Paulistano, sinônimo da auto-afirmação da cultura negra, “Seo” Geraldo, como os sambistas de todas as escolas respeitosamente o tratavam, teve passagem relevante como fundador, diretor ou colaborador, pela maioria das escolas de samba da cidade. A letra de Batuque de Pirapora é uma crônica da perseguição ao samba pela igreja católica em Pirapora do Bom Jesus, com ironia e talento ele criara um samba alegre e combativo, juntamente com Tradições e Festas de Pirapora, fez uma releitura do samba rural paulista, do qual a cidade foi o berço, essas músicas trazem elementos dos jongos, vissungos e batuques que aprendeu com sua avó, que entoava cantos do tempo dos escravos. Sua musicalidade também foi influenciada por seu pai que tocava violino nos choros e por sua mãe com quem aprendeu ritmo e dança.
O “negrinho das marmitas” como também era conhecido, já aos 10 anos de idade, fazia entregas para sua mãe que tinha uma pensão na Rio Branco, em frente ao palácio do governo, isso era 1937, ele e o Zeca da Casa Verde, que era filho de uma grande amiga de sua mãe, sempre andaram juntos, tanto que eles se consideravam parentes, cresceram, se formaram e viveram no samba. “Aí eu dizia: ‘Atravessa a fronteira’. Depois de entregar a marmita, ia onde estava minha gente. Era exatamente lá na Barra Funda, dividindo com os Campos Elíseos. Então ia pra Barra Funda e ficava lá no samba. (...) Lá no largo da Banana, na hora que folgavam um pouquinho, eles armavam um samba e a gente era moleque, ficava olhando os velhos, não deixavam a gente entrar na roda: ‘Sai daqui, moleque, chega pra lá’. A gente ficava apreciando ‘os coroas’ todos cantar e a gente guardou muita coisa e deu continuidade.” Geraldo Filme, Programa Ensaio, 1992.
“Minha avó não era brincadeira. Eu peguei um canto com a minha avó, que era o maior sarro. Dizia que as negas velhas escravas, quando nascia uma criança, entregavam pra elas como se fosse filha. Se a moça desse uma mancada então, elas sofriam demais. Então acontecia o seguinte: lá na senzala, enquanto a nega velha tomava conta da criança (como se fosse o partido alto hoje), os nego velho lá nas casinhas, no hora do samba, metia a bronca. Então eles cantavam um negócio assim:
Oi tiá, tiá, tiá
Oi tiá de Junqueira, tiá
Oi tiá, tiá, tiá
Ou tiá de Junqueira, tiá
Moça bonita
Delírio, tiá
Veja que coisa indecente, tiá
Deita sem estar casada, tiá
Fazendo vergonha pra gente, oi tiá.
Os negos cantavam e elas chegavam: ‘Pará com isso, zombando das meninas’. Então a tradução disso é que a escrava negra tinha que ir pra cama na marra e a moça branca ia por livre e espontânea vontade, e elas se sentiam mães daquelas crianças, elas é que ficavam envergonhadas.”
“A praça da Sé não foi fácil. Saía da Barra Funda e primeiro parava na praça Patriarca, era uma paradinha obrigatória, porque ali era a classe A da elite negra. Eram os clubes de negros que tinha, uns clubes enjoados, uns neguinhos cheios de tanta coisa. Dava um tempinho na Patriarca, passava na Direita e ai já começava a fazer samba nas latas de lixo. Ia subindo, tinha o Bar Café Viaduto. Enquanto eles tocavam valsa vienense lá, a gente fazia samba na lata do lixo do lado de fora. Chegava na Sé, João Mendes, ai a gente armava a roda do samba. ( ... ) A tiririca é o jogo da pernada. Naquela brincadeira, na época, não podia fazer samba na rua em São Paulo. Quem fazia samba ia em cana. Quem conseguia ia com uma moeda de dois mil-reis, que era dinheiro pra chuchu na época, no bolso, porque sabia que se cantava samba ia preso, pra pagar a carceragem. Tinha alguns policiais que tiravam sarro da gente. As meninas também entravam na roda, sambar, aquela brincadeira. Tinha um policial lá que tinha uma veia musical. Então ele chegava: ‘A cadeia tá suja! Vai todo mundo lavar’. Pelo menos ele cantava:
Vem cá, menino
Vem cá, menina
Ta tudo preso
Pra amanhã fazer faxina.
Levava a negada pra cadeia, de manhã lavava a cadeia e ia embora.”
E ele continua contando as histórias e mostrando toda a força do improviso do samba antigo paulistano, inclusive descrevendo melhor a tiririca, que faz lembrar-me dos agitos, nascidos na década de 1980, e até hoje praticados pela galera que curte um som pesado, um rock’n’roll mais visceral e dançam pogando, uma dança que também tem uma influência indígena.
“‘È tumba, moleque, tumba’ [cantando], isso ai, a gente brincava. Como não tinha instrumento, era na palma da mão, uma lata de lixo, caixa de engraxate, tudo que desse som servia. A gente armava a roda e ficava brincando de pernada até os homens chegarem. Quando os homens chegavam, acabava a roda. Era pra derrubar, brincadeira pesada mesmo. Eu caí, derrubei, cai também, não sou melhor do que os outros, não. Tinha uns caras da perna boa, não dava pra escapar da perna deles, não. Tinha vários: o Sinval, que está ainda hoje no Império do Cambuci, Guardinha, Pato N’Água, Perdigão. Tinha uma leva deles ai que, pra derrubar na roda, era difícil.”
continua .....
GOG - Assassinos Sociais
A lição meu irmão esta ai
Nos ataques a bomba
No genocídio em Huanda
Na pobreza no Haite
É triste mais eu vi
O clamor materno
Rogando logo o céu o inferno
Ao seu filho subnutrido
Que aos dezoito não pesava mais que vinte e poucos quilos
Mas de nada adiantava isso
Do outro lado do mundo seu futuro era decidido
Num café matinal entre políticos malditos
Parasitas cínicos
Assassinos sociais hé
Os poderosos são demais
Derramam pela boca seus venenos mortais
Poluindo a mente dos que são de paz
A gente segura atura estas criaturas
Como pode mas um dia explode
E a idéia sai (então vai)
Eu vou eu vou de vez
Vejam só vocês
No meu Brasil em ano de eleição
O que se vê pela periferia são
Palanques panfletos carros de som
Promessas em alto e bom tom de que as coisas vão melhorar
Mas como acreditar
Se os que prometem sempre estiveram lá
Prontos para nos trucidar
E pra complicar
Não são humildes morrem de preguiça
Só rogam o bem pra bem estar pra deus na missa
E mesmo assim não fazem jus
Não fazem o sinal da cruz
Desses eu gog sempre quer estar a anos luz
Acreditando no que creio há
E o que é mais feio
Pra eles o caminho do sucesso não importa os meios
Desses caras já estou cheio (então vai)
4x assassinos sociais
Hé os poderosos são demais
Você tem todo o direito de não acreditar
No que estou dizendo
Mas tem o dever de conferir
Pra ver a zona que está ai no parlamento
Metem a mão na cara dura no orçamento
Interferindo na vida de milhões
E não são dois nem três são mais de cem ladrões
Vou repetir quero mais adesões
Nos palanques seguem antigos padrões
Dizendo que são ricos
Que poderia estar cuidando da família do próprios negócios
E que por amor a nação
Adotaram a política como opção
Que ajudar os pobres é a missão
Mas quem são eles pra falar de amor
E preciso ter antes de mais nada ter noção do horror
Que é ver velhos vagando na madrugada das ruas
Com frio nas rugas
É preciso ver crianças
Pesinhos pequenos desde cedo na estrada
Esse é o preço pago vendendo dim dim picolé amendoim cocada
Pra sobreviver toda a iniciativa é válida
Mas é essencial sim ter escrúpulos honrar a palavra dada
E o que dói mais é ver muitos de meu povo
Caindo na cilada
Trabalhando em campanhas milionárias por migalhas
Empunhando bandeira no sol a sol
O corpo suado coração está do outro lado
Mas infelizmente a necessidade fala alto
A idéia é:
Trabalhando contra nós mesmo sempre sairemos derrotados
E enquanto isso o que eles fazem
Começam em Brasília a semana na quarta e encerram na quinta
Matam a segunda a terça a sexta
Mal político em qualquer canto do planeta
É um ante cristo um cisto a besta
A atração principal do telejornal
A procura de status investe no visual
Realmente eu sou um marginal
E quero ver sua cabeça seu oco seu mal
Bicho mesquinho
Vejo em seus olhos tochas de fogo luzindo
Nas suas costa azas vermelhas se abrindo
É só olhar pra eles e verá que não estou mentindo
Que não é vacilo delírio nem sonho
Mal político pra mim o pior dos demônios
Junta logo suas balas e vai
Composição: Abel Meeropol
Fruta Estranha
Árvores do sul produzem uma fruta estranha,
Sangue nas folhas e sangue nas raízes,
Corpos negros balançando na brisa do sul,
Frutas estranhas penduradas nos álamos.
Cena pastoril do valente sul,
Os olhos inchados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresca,
Então o repentino cheiro de carne queimando.
Aqui está a fruta para os corvos arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Par o sol apodrecer, para as árvores derrubarem,
Aqui está a estranha e amarga colheita.
Marca às 16 pra sair às 17. Estacionamento da Rodoviária.
Parece ter muita gente, será que cabem todos, quem chega vai marcando lugar.
A galera já esta aquecendo, ou refrescando-se, cerveja, vinho gelado e aquela Cachaça.
As meninas marcam presença, afinal nas bandas só tem garoto, o que é uma pena, aquela garota sabe tudo de Baixo!
Cadê o Gustavo- foi tocar com os emo, vai de carro pra lá.
Precisa passar na casa do Marcelo, pegar equipamento.
Ônibus ligado, o Natan está chegando, lotação máxima, 2 no corredor. Volta pela cidade para chegar nos equipamento.
A garota loira, pouca idade, bastante altura, namorada do Gustavo, começa a beber aquele vinho muito tinto, lembra aqueles chicles que deixam a língua colorida.
-coloca um pouco dessa Sagatiba ai vai...
Passamos pegamos tudo e todos, agora é estrada,
17:30 hrs, 30 minutos de estrada, a Larissa já mandou uma garrafa daquela tintura com cachaça, esta passando mal ... os amigos dão uma força,
mas como disse o Gui, se fosse o rapaz aqui com cara de macaco manco sem teta, ninguém daria tanta atenção.
prima do Todhy, precisa de um chocolate, açúcar no sangue, que tal uma água tônica.
A Lolly tirou folga da maquina, deixa pra gente brincar um pouco.
E agora, este ônibus não tem banheiro!!! caraca... as meninas entoam um coro “Banheirooo” “Banheiiiiiiroooo”.
– vamos parar no próximo posto... alivio geral.
No próximo oficio coloca lá –tem que ter banheiro!
Alguém pergunta –ta perto? –nem começamos a viagem, são quase 3 hrs de estrada.
Passaram-se apenas 40 minutos.
O Guilherme bem que podia ser comediante, muitos anos de excursões e tal, não me recordo de dar tanta risada numa empreitada dessas.
O Bruno parece aquele filme “O medico e o monstro”, não fala nada na viagem, mas no palco se transforma. Na Gant’z é assim mesmo, a turma é sossegada, exceto o Ariel ...
O Felipe veio meio empresário do Overnight, camisa verde e tal.
E no meio de toda essa curtição, as coisas vão se ajeitando, surgem 2 casais ficantes no caminho... um deles é uma grata surpresa e satisfação !!!
Chegamos em Itararé, cadê o bar? -pará ai e pergunta. -é fácil, fácil... opa, mas está fechado ainda -é cedo, 20 horas.
-Vamos explorar a cidade, enquanto não abre
-e o pessoal vai ter que passar o som ainda.
Depois de 20 minutos, chegamos ao centro da cidade,
-vamos comer umas pizzas
-mas tem que pegar e sair comendo.
Andando, já faz a digestão no caminho pra poder agitar no som.
22:00 hrs o som vai começar. Tem festa de peão, a cidade está toda lá!
ainda bem que viemos de micro ônibus, quase lotamos o bar.
Vamos curtir o som da Overnight.
Caras animados mandam bem o som e a galera também agita como sempre.
Bons covers, musicas próprias, personalidade... e aquela do Michael, pra não esquecer.
Não esta saindo bem a voz, mas o Cafundó teve uma boa idéia e resolveu a questão.
E a loira ressuscitou depois de dormir toda metade final da viagem, parece que não aconteceu nada. Esta inteira e viva novamente...
A Lolly quase dança um funk e a Suzy tá querendo se acabar.
Chama o Gant’z, vamos fazer aquele cover, todos juntos no palco, Anthrax e Public Enemy, coragem.
Agora é a vez da Gant’z, passa o som logo ai
-queremos musica!
Sons mais pesados, os garotos emendam Sympton of the Universe com musica própria, boa sacada, duas ótimas musicas juntas...
Quase meia-noite, chega ao palco o cara do bar, com cara de decepção
-a policia apareceu ai, tem que parar o som.
-Não vai nem tocar o Angels Holocaust?!?
-Caramba, depois de toda essa viagem!!!
não tem problema, curtimos tudo, pena que o som não foi completo. A juventude compensa, com força e alegria.
Na volta, aquele rapaz que parece que nem veio, surgiu e nos brindou com varias sacadas sacanas e sujas, para novamente a galera cair na risada intensa e verdadeira, né Tim...
Como disse Fernando Pessoa:
Mestre, meu mestre querido!
A quem nenhuma coisa feriu, nem doeu, nem perturbou,
Seguro como um sol fazendo o seu dia involuntariamente,
Natural como um dia mostrando tudo,
Meu mestre, meu coração não aprendeu a tua serenidade.
Meu coração não aprendeu nada.
Meu coração não é nada,
Meu coração está perdido.
E depois por que é que me ensinaste a clareza da vista,
Se não me podias me ensinar a ter a alma com que a ver clara?
E por que é que me chamaste para o alto dos montes
Se eu, criança das cidades do vale, não sabia respirar?