terça-feira, 29 de setembro de 2009

Clichê

Um aboio cumprido de pássaro preto
(co)move a travessia

Sem repente
nem enredo

Dilata meu zinco.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Johann Sebastian Bach "Matthaus Passion" - 1. Coro: Kommt ihr Toechter


Durante o coro de abertura da Paixão Segundo São Mateus formaram-se à minha frente verdadeiras montanhas de dor.

Rainer Maria Rilke, 1920

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Können Tränen meiner Wangen




Johann Sebastian Bach é o começo e fim de toda a música [...] Como fenômeno criador, ele representa o fim de uma época da história da música, o barroco, mas também mais do que isso: Bach é a síntese de toda a música que o precedeu e é, sem dúvida alguma, a chave para toda a música que veio depois.

Günther Ramin, 1954

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vida


"Num vale onde precipícios são floridos e
nossos sonhos enterrados como sacrifício aos deuses,
o vento sopra com fragilidade nos cabelos.
Nunca despetalaram em vão uma flor.
Mas já desmancharam os desenhos das nuvens por pura satisfação."

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cordel do Fogo Encantando



Um sopro histórico de MPB. (6ª. Parte)

“Eu era menino
Mamãe disse: vamos embora
Você vai ser batizado
No samba de Pirapora
Mamãe fez uma promessa
Para me vestir de anjo
Me vestiu de azul-celeste
Na cabeça um arranjo
Ouviu-se a voz do festeiro
No meio da multidão
Menino preto não sai
Aqui nessa procissão
Mamãe, mulher decidida
Ao santo pediu perdão
Jogou minha asa fora
Me levou pro barracão
Lá no barraco
Tudo era alegria
Nego batia na zabumba
E o boi gemia
Iniciado o neguinho
Num batuque de terreiro
Samba de Piracicaba
Tietê e campineiro
Os bambas da Paulicéia
Não consigo esquecer
Fredericão na zabumba
Fazia a terra tremer
Cresci na roda de bamba
No meio da alegria
Eunice puxava o ponto
Dona Olímpia respondia
Sinhá caía na roda
Gastando a sua sandália
E a poeira levantava
Com o vento das sete saias
Lá no terreiro
Tudo era alegria
Nego batia na zabumba
E o boi gemia
Lá no terreiro
Tudo era alegria
Nego batia na zabumba
E o boi gemia.”

Esta letra é apenas uma das grandes obras de Geraldo Filme, conhecido como Enciclopédia do Samba Paulistano, sinônimo da auto-afirmação da cultura negra, “Seo” Geraldo, como os sambistas de todas as escolas respeitosamente o tratavam, teve passagem relevante como fundador, diretor ou colaborador, pela maioria das escolas de samba da cidade. A letra de Batuque de Pirapora é uma crônica da perseguição ao samba pela igreja católica em Pirapora do Bom Jesus, com ironia e talento ele criara um samba alegre e combativo, juntamente com Tradições e Festas de Pirapora, fez uma releitura do samba rural paulista, do qual a cidade foi o berço, essas músicas trazem elementos dos jongos, vissungos e batuques que aprendeu com sua avó, que entoava cantos do tempo dos escravos. Sua musicalidade também foi influenciada por seu pai que tocava violino nos choros e por sua mãe com quem aprendeu ritmo e dança.

O “negrinho das marmitas” como também era conhecido, já aos 10 anos de idade, fazia entregas para sua mãe que tinha uma pensão na Rio Branco, em frente ao palácio do governo, isso era 1937, ele e o Zeca da Casa Verde, que era filho de uma grande amiga de sua mãe, sempre andaram juntos, tanto que eles se consideravam parentes, cresceram, se formaram e viveram no samba. “Aí eu dizia: ‘Atravessa a fronteira’. Depois de entregar a marmita, ia onde estava minha gente. Era exatamente lá na Barra Funda, dividindo com os Campos Elíseos. Então ia pra Barra Funda e ficava lá no samba. (...) Lá no largo da Banana, na hora que folgavam um pouquinho, eles armavam um samba e a gente era moleque, ficava olhando os velhos, não deixavam a gente entrar na roda: ‘Sai daqui, moleque, chega pra lá’. A gente ficava apreciando ‘os coroas’ todos cantar e a gente guardou muita coisa e deu continuidade.” Geraldo Filme, Programa Ensaio, 1992.

“Minha avó não era brincadeira. Eu peguei um canto com a minha avó, que era o maior sarro. Dizia que as negas velhas escravas, quando nascia uma criança, entregavam pra elas como se fosse filha. Se a moça desse uma mancada então, elas sofriam demais. Então acontecia o seguinte: lá na senzala, enquanto a nega velha tomava conta da criança (como se fosse o partido alto hoje), os nego velho lá nas casinhas, no hora do samba, metia a bronca. Então eles cantavam um negócio assim:
Oi tiá, tiá, tiá
Oi tiá de Junqueira, tiá
Oi tiá, tiá, tiá
Ou tiá de Junqueira, tiá
Moça bonita
Delírio, tiá
Veja que coisa indecente, tiá
Deita sem estar casada, tiá
Fazendo vergonha pra gente, oi tiá.
Os negos cantavam e elas chegavam: ‘Pará com isso, zombando das meninas’. Então a tradução disso é que a escrava negra tinha que ir pra cama na marra e a moça branca ia por livre e espontânea vontade, e elas se sentiam mães daquelas crianças, elas é que ficavam envergonhadas.”

“A praça da Sé não foi fácil. Saía da Barra Funda e primeiro parava na praça Patriarca, era uma paradinha obrigatória, porque ali era a classe A da elite negra. Eram os clubes de negros que tinha, uns clubes enjoados, uns neguinhos cheios de tanta coisa. Dava um tempinho na Patriarca, passava na Direita e ai já começava a fazer samba nas latas de lixo. Ia subindo, tinha o Bar Café Viaduto. Enquanto eles tocavam valsa vienense lá, a gente fazia samba na lata do lixo do lado de fora. Chegava na Sé, João Mendes, ai a gente armava a roda do samba. ( ... ) A tiririca é o jogo da pernada. Naquela brincadeira, na época, não podia fazer samba na rua em São Paulo. Quem fazia samba ia em cana. Quem conseguia ia com uma moeda de dois mil-reis, que era dinheiro pra chuchu na época, no bolso, porque sabia que se cantava samba ia preso, pra pagar a carceragem. Tinha alguns policiais que tiravam sarro da gente. As meninas também entravam na roda, sambar, aquela brincadeira. Tinha um policial lá que tinha uma veia musical. Então ele chegava: ‘A cadeia tá suja! Vai todo mundo lavar’. Pelo menos ele cantava:
Vem cá, menino
Vem cá, menina
Ta tudo preso
Pra amanhã fazer faxina.
Levava a negada pra cadeia, de manhã lavava a cadeia e ia embora.”

E ele continua contando as histórias e mostrando toda a força do improviso do samba antigo paulistano, inclusive descrevendo melhor a tiririca, que faz lembrar-me dos agitos, nascidos na década de 1980, e até hoje praticados pela galera que curte um som pesado, um rock’n’roll mais visceral e dançam pogando, uma dança que também tem uma influência indígena.

“‘È tumba, moleque, tumba’ [cantando], isso ai, a gente brincava. Como não tinha instrumento, era na palma da mão, uma lata de lixo, caixa de engraxate, tudo que desse som servia. A gente armava a roda e ficava brincando de pernada até os homens chegarem. Quando os homens chegavam, acabava a roda. Era pra derrubar, brincadeira pesada mesmo. Eu caí, derrubei, cai também, não sou melhor do que os outros, não. Tinha uns caras da perna boa, não dava pra escapar da perna deles, não. Tinha vários: o Sinval, que está ainda hoje no Império do Cambuci, Guardinha, Pato N’Água, Perdigão. Tinha uma leva deles ai que, pra derrubar na roda, era difícil.”
continua .....

GOG - Programa Provocações (TV Cultura)



GOG - Assassinos Sociais

A lição meu irmão esta ai

Nos ataques a bomba
No genocídio em Huanda
Na pobreza no Haite
É triste mais eu vi
O clamor materno
Rogando logo o céu o inferno
Ao seu filho subnutrido
Que aos dezoito não pesava mais que vinte e poucos quilos
Mas de nada adiantava isso
Do outro lado do mundo seu futuro era decidido
Num café matinal entre políticos malditos
Parasitas cínicos
Assassinos sociais hé
Os poderosos são demais
Derramam pela boca seus venenos mortais
Poluindo a mente dos que são de paz
A gente segura atura estas criaturas
Como pode mas um dia explode
E a idéia sai (então vai)
Eu vou eu vou de vez
Vejam só vocês
No meu Brasil em ano de eleição
O que se vê pela periferia são
Palanques panfletos carros de som
Promessas em alto e bom tom de que as coisas vão melhorar
Mas como acreditar
Se os que prometem sempre estiveram lá
Prontos para nos trucidar
E pra complicar
Não são humildes morrem de preguiça
Só rogam o bem pra bem estar pra deus na missa
E mesmo assim não fazem jus
Não fazem o sinal da cruz
Desses eu gog sempre quer estar a anos luz
Acreditando no que creio há
E o que é mais feio
Pra eles o caminho do sucesso não importa os meios
Desses caras já estou cheio (então vai)

4x assassinos sociais
Hé os poderosos são demais

Você tem todo o direito de não acreditar
No que estou dizendo
Mas tem o dever de conferir
Pra ver a zona que está ai no parlamento
Metem a mão na cara dura no orçamento
Interferindo na vida de milhões
E não são dois nem três são mais de cem ladrões
Vou repetir quero mais adesões
Nos palanques seguem antigos padrões
Dizendo que são ricos
Que poderia estar cuidando da família do próprios negócios
E que por amor a nação
Adotaram a política como opção
Que ajudar os pobres é a missão
Mas quem são eles pra falar de amor
E preciso ter antes de mais nada ter noção do horror
Que é ver velhos vagando na madrugada das ruas
Com frio nas rugas
É preciso ver crianças
Pesinhos pequenos desde cedo na estrada
Esse é o preço pago vendendo dim dim picolé amendoim cocada
Pra sobreviver toda a iniciativa é válida
Mas é essencial sim ter escrúpulos honrar a palavra dada
E o que dói mais é ver muitos de meu povo
Caindo na cilada
Trabalhando em campanhas milionárias por migalhas
Empunhando bandeira no sol a sol
O corpo suado coração está do outro lado
Mas infelizmente a necessidade fala alto
A idéia é:
Trabalhando contra nós mesmo sempre sairemos derrotados
E enquanto isso o que eles fazem
Começam em Brasília a semana na quarta e encerram na quinta
Matam a segunda a terça a sexta
Mal político em qualquer canto do planeta
É um ante cristo um cisto a besta
A atração principal do telejornal
A procura de status investe no visual
Realmente eu sou um marginal
E quero ver sua cabeça seu oco seu mal
Bicho mesquinho
Vejo em seus olhos tochas de fogo luzindo
Nas suas costa azas vermelhas se abrindo
É só olhar pra eles e verá que não estou mentindo
Que não é vacilo delírio nem sonho
Mal político pra mim o pior dos demônios
Junta logo suas balas e vai

Strange Fruit

Billie Holiday

Composição: Abel Meeropol

Fruta Estranha

Árvores do sul produzem uma fruta estranha,
Sangue nas folhas e sangue nas raízes,
Corpos negros balançando na brisa do sul,
Frutas estranhas penduradas nos álamos.

Cena pastoril do valente sul,
Os olhos inchados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresca,
Então o repentino cheiro de carne queimando.

Aqui está a fruta para os corvos arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Par o sol apodrecer, para as árvores derrubarem,
Aqui está a estranha e amarga colheita.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Reverso



"O silêncio débil que transforma os momentos em dias,
e os dias em séculos.
Existe algo tentando quebrar o silêncio desta noite.
É uma voz que não se entende.
Vejo seres, muitos... mas não os tenho, não os quero.
Minha cabeça como uma bomba, pulsando.
Alimentando cada minuto com visões desorientadas e irreais,
talvez não tão irreal assim...
Mas continuo observando tudo.
Não há nada de novo.
Nada comigo.
Nem sons.
Nem imagens.
Nem movimentos.
Só uma combinação de sombras e luzes.
O suor continua me molhando.
Minha cabeça continua pulsando numa dor esmagadora.
Solidão.
Como se vive? Ou sobrevive?
Qual camuflagem usar quando meu Anjo perguntar qual a cor do meu dia?
Minha noite é negra, especial.
Mas meu dia é uma mistura, às vezes rubra, não sei que cor tem."
Neiva Corrêa
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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Canto leve

Para Daniela

Não sei cantar cantos de pastores.
Meu mar está longe.
Mas peço a minha alma agrária
o curso desse rio.

Me leve aos peixes.

Baixo meus olhos porque inunda tanto
seu olhar de marés
quando a chuva cai
na terra possível dos meus sonhos.

Baixo meus olhos porque tenho a coragem

(não há medo quando a noite recolhe perto de mim sua pálpebra morna)

de deixar seu corpo descansar
nas palavras
desse vento
que me leva manso.

Me leve aos peixes.

Não tenho cantar de pastores
nem sua imitação.
Mas minha mão adormece no seu colo
e entendo o tempo do seu gesto
o plano escolhido do seu gesto
no limite das pequenas coisas que você rege
ordenando o caos
como quem corre livre o mundo
da sua casa.

Não há açoite em suas águas
somente a tarde
para me fazer surgir a noite.

Seu olhar,
golfinhos chorando
no campo tão feminino das ondas...

Ao longe, o mar sabe
que guardo cada pássaro
(desde a infância conheço sua ausência)
agudo, liberto,
na orla sentida dos seus versos.

Me leve aos peixes.

domingo, 13 de setembro de 2009

Salve as folhas


(...)Sem folha não tem sonho
Sem folha não tem vida
Sem folha não tem nada

Quem é você e o que faz por aqui
Eu guardo a luz das estrelas
A alma de cada folha (...)

Ouço o vento bater
Os galhos em minha janela
Traz consigo o perfume das flores
E me faz lembrar o cheiro dela
Tão distante se encontras
longe da minha mão
deixa-me triste
Só, com a solidão
Mas o vento veio
Nesse momento me visitar
Bate forte vento
Faz-me tentar não chorar
Penso que se pudesse
Pegava carona com o vento
Ia até você
Para diminuir meu lamento
Venha vento, venha
Me leve contigo ou leve um recado
Seja meu amigo
Digas que sofro
Mas é um sofrer em vão
Pois essa destinatária
Doou-se para outro coração
O que resta fazer?
Uma coisa é certo que farei
Apanharei antigas folhas trazidas pelo vento.
Limparei os cantos da alma
Deixarei minha "casa" limpa e cheirosa
Acredito que um novo vento virá.
E consigo um novo perfume.

Adilson Costa

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Baden Powell




É facil ser rapido, mas ter todo esse ritmo e musicalidade não é pra qualquer um.

Elomar Figueira Mello



VIOLEIRO

Vou cantá no canto di primero
as coisa lá da minha mudernage
qui mi fizero errante e violêro
Eu falo sério e num é vadiage
E pra você qui agora está mi ovino
Juro inté pelo Santo Minino
Vige Maria qui ôve o queu digo
Si fo mintira mi manda um castigo

Apois pro cantadô i violero
Só há treis coisa nesse mundo vão
Amô, furria, viola, nunca dinhero
Viola, furria, amo, dinhero não

Cantado di trovas i martelo
Di gabinete, lijêra i moirão
Ai cantado já curri o mundo intero
Já inté cantei nas portas di um castelo
Dum rei qui si chamava di Juão
Pode acriditá meu companhero
Dispois di tê cantado o dia intero
O rei mi disse fica, eu disse não

Si eu tivé di vivê obrigado
um dia i antes dêsse dia eu morro
Deus feiz os homi e os bicho tudo fôrro
já vi iscrito no livro sagrado
qui a vida nessa terra é uma passage
Cada um leva um fardo pesado
é um insinamento qui desde a mudernage
eu trago bem dentro do coração guardado

Tive muita dô di num tê nada
pensano qui êsse mundo é tudo tê
mais só dispois di pená pela istrada
beleza na pobreza é qui vim vê
vim vê na procissão do Louvado-seja
I o assombro das casa abandonada
côro di cego na porta das igreja
I o êrmo da solidão das istrada

Pispiano tudo do cumêço
eu vô mostrá como faiz um pachola
qui inforca o pescoço da viola
E revira toda moda pelo avêsso
i sem arrepará si é noite ou dia
vai longe cantá o bem da furria
sem um tostão na cuia u cantado
canta inté morrê o bem do amo.

sábado, 5 de setembro de 2009

Sem-fim

Era menino. Ponha triste e fica assim: menino triste. Tinha se demorado vendo os riscos que as formigas faziam no chão. Eram longos, atravessados na grama, cheios de caminhos tortos. Mas levavam em direção ao rio, as formigas talvez tivessem o buraco lá perto, antes um pouco da água. Ele tinha medo. Vira certa vez um afogado... mais parecia um balão cheio. Desejou que as formigas não estivessem ali, que, do outro lado do rio, pousassem suas vidas. Ou um formigueiro n’água.
Sabia que estava perto da hora. O pai passaria por ali, trocaria poucas palavras com a mãe. Ele não entenderia, nunca entendia. Depois veria a sua mala, as suas coisas na mão do pai. Ficaria essa impressão de cinzas deixadas sobre tudo. Queria estar só um pouquinho. Um pouquinho como aquele pássaro que achou sair da terra e abria-se alado para um voo esquisito. Demorou-se, mas o voo não saiu. Sem se mexer, ficou olhando como se arrastasse o tempo com grandes madeiras pesadas. O pássaro misturou-se à folhagem, ganhou movimento dos matos. Separado, numa outra árvore um sem-fim cantou.
- Sem fim, sem fim, sem fim...
O galo, perto dali, escapou em dança. Saci, nome de passarinho. Era seco. O menino correu para assustar a ave e não percebeu que pisara no rastro das formigas. O vento dera-lhe uma alegria súbita, movida pela ação de suas pernas, do coração em atropelo, do esquecimento da partida. Depois, no terreiro, aconteceu de sentir as folhas cheias de sol. Se montasse numa delas, rumaria para lá, onde as coisas não se precisam. Tirou o sapato, uma formiga estava esmagada, vermelha, dentro dele.
Veio a imagem, uma viagem, o carro atirado pela estrada de terra... poeira levantada, não se recordava para onde ia. O sol ponteava a vida em sombras de árvores, a língua colando no céu da boca. Não sabia definir aquela tarde, passagem de gosto breve, leve na sua curta presença, mas, ao tanto, o vento partia os galhos dos taquarais longos, o carro parou. A mãe e o pai saíram, uma ordem para ele. Imperativo, sairia também. Casa pequena, talvez esperassem por eles, parentes que jamais vira. Teria sorrisos e perguntas de pouco valor. Era assim mesmo. Isso não impressionava. Seus olhos correram a parede da frente, o vento ainda estalava as taquaras secas, adormecendo o tempo, dando carga ao passado. Ao lado da porta, viu. O sangue. Como se nunca tivesse percebido essa cor, descobriu o pássaro na gaiola. De boi. Uma gota veio planando pena em queda livre, escorrida do peito. Agora pouco importava a sede, as palavras dos outros, o que deveria cumprir, o corpo da ave derramou grená nos seus olhos, inundando as vozes, a poeira na língua, os sorrisos impressos em panos que se desmancham. O lugar tomava maneira de sol poente. Disso tudo, apenas a silhueta do sangue-de-boi alimentava o seu mundo infantil. Jamais ousara perguntar o motivo da viagem em direção a esse começo do que acabaria por todo o resto. O sangue de todos.
Refeito pela voz fraca da lembrança, o relevo do chão coberto pela copa da mangueira fazia com que seus pés desejassem a terra. Antes assim, nem partiria. Seria mais chão dos bichos, cama da chuva, diverso dos homens grandes, das mulheres que tragavam os dias em seus olhos fundos de desamparo. E, como solo, teria sempre uma formiga esmagada dentro...
Calçou o sapato, o pai já o esperava, o jeito cinza com as malas na porta da casa. Seu ar assumindo os ares. Limpou as mãos e foi andando, miúdo, para o aceno generoso do adulto. A tarde caía em cima dele. O sem-fim calou-se por um instante enquanto o mundo engolia homem e menino... Depois, repleto de sua vida entre asas, voltou a chamar pela noite.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Viagem ... viagem.

Marca às 16 pra sair às 17. Estacionamento da Rodoviária.

Parece ter muita gente, será que cabem todos, quem chega vai marcando lugar.

A galera já esta aquecendo, ou refrescando-se, cerveja, vinho gelado e aquela Cachaça.

As meninas marcam presença, afinal nas bandas só tem garoto, o que é uma pena, aquela garota sabe tudo de Baixo!


Cadê o Gustavo- foi tocar com os emo, vai de carro pra lá.

Precisa passar na casa do Marcelo, pegar equipamento.

Ônibus ligado, o Natan está chegando, lotação máxima, 2 no corredor. Volta pela cidade para chegar nos equipamento.


A garota loira, pouca idade, bastante altura, namorada do Gustavo, começa a beber aquele vinho muito tinto, lembra aqueles chicles que deixam a língua colorida.

-coloca um pouco dessa Sagatiba ai vai...


Passamos pegamos tudo e todos, agora é estrada,

17:30 hrs, 30 minutos de estrada, a Larissa já mandou uma garrafa daquela tintura com cachaça, esta passando mal ... os amigos dão uma força,

mas como disse o Gui, se fosse o rapaz aqui com cara de macaco manco sem teta, ninguém daria tanta atenção.

prima do Todhy, precisa de um chocolate, açúcar no sangue, que tal uma água tônica.


A Lolly tirou folga da maquina, deixa pra gente brincar um pouco.


E agora, este ônibus não tem banheiro!!! caraca... as meninas entoam um coro “Banheirooo” “Banheiiiiiiroooo”.

– vamos parar no próximo posto... alivio geral.

No próximo oficio coloca lá –tem que ter banheiro!

Alguém pergunta –ta perto? –nem começamos a viagem, são quase 3 hrs de estrada.

Passaram-se apenas 40 minutos.


O Guilherme bem que podia ser comediante, muitos anos de excursões e tal, não me recordo de dar tanta risada numa empreitada dessas.

O Bruno parece aquele filme “O medico e o monstro”, não fala nada na viagem, mas no palco se transforma. Na Gant’z é assim mesmo, a turma é sossegada, exceto o Ariel ...

O Felipe veio meio empresário do Overnight, camisa verde e tal.


E no meio de toda essa curtição, as coisas vão se ajeitando, surgem 2 casais ficantes no caminho... um deles é uma grata surpresa e satisfação !!!


Chegamos em Itararé, cadê o bar? -pará ai e pergunta. -é fácil, fácil... opa, mas está fechado ainda -é cedo, 20 horas.

-Vamos explorar a cidade, enquanto não abre

-e o pessoal vai ter que passar o som ainda.

Depois de 20 minutos, chegamos ao centro da cidade,

-vamos comer umas pizzas

-mas tem que pegar e sair comendo.

Andando, já faz a digestão no caminho pra poder agitar no som.


22:00 hrs o som vai começar. Tem festa de peão, a cidade está toda lá!

ainda bem que viemos de micro ônibus, quase lotamos o bar.


Vamos curtir o som da Overnight.

Caras animados mandam bem o som e a galera também agita como sempre.

Bons covers, musicas próprias, personalidade... e aquela do Michael, pra não esquecer.

Não esta saindo bem a voz, mas o Cafundó teve uma boa idéia e resolveu a questão.

E a loira ressuscitou depois de dormir toda metade final da viagem, parece que não aconteceu nada. Esta inteira e viva novamente...

A Lolly quase dança um funk e a Suzy tá querendo se acabar.

Chama o Gant’z, vamos fazer aquele cover, todos juntos no palco, Anthrax e Public Enemy, coragem.


Agora é a vez da Gant’z, passa o som logo ai

-queremos musica!

Sons mais pesados, os garotos emendam Sympton of the Universe com musica própria, boa sacada, duas ótimas musicas juntas...


Quase meia-noite, chega ao palco o cara do bar, com cara de decepção

-a policia apareceu ai, tem que parar o som.

-Não vai nem tocar o Angels Holocaust?!?

-Caramba, depois de toda essa viagem!!!

não tem problema, curtimos tudo, pena que o som não foi completo. A juventude compensa, com força e alegria.


Na volta, aquele rapaz que parece que nem veio, surgiu e nos brindou com varias sacadas sacanas e sujas, para novamente a galera cair na risada intensa e verdadeira, né Tim...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Dizem que há mundos lá fora Que nem nos sonhos eu vi Mas que importa todo mundo Se o mundo todo é aqui.

Como disse Fernando Pessoa:


Mestre, meu mestre querido!
A quem nenhuma coisa feriu, nem doeu, nem perturbou,
Seguro como um sol fazendo o seu dia involuntariamente,
Natural como um dia mostrando tudo,
Meu mestre, meu coração não aprendeu a tua serenidade.
Meu coração não aprendeu nada.
Meu coração não é nada,
Meu coração está perdido.
E depois por que é que me ensinaste a clareza da vista,
Se não me podias me ensinar a ter a alma com que a ver clara?
E por que é que me chamaste para o alto dos montes

Se eu, criança das cidades do vale, não sabia respirar?


terça-feira, 1 de setembro de 2009

Bye Bye Blog

Salve Maranduvás!
Licença,

Vim aqui agradecer
as varandas e janelas
na cabeça
que criamos nas ribanceiras de botões e fôlego
dessa maloca-blog.

não sei rezar em português

mas quem nasce na seca aprende desde míuda a lançar pedras na zica:

Que chova demorado
pra tacar disparo nos medos nossos de criar.

Que chova arriscoso
pra plantar peixes venenosos nas beiras da masmorra.

Que chova mansinho
pra arrepiar as esquinas subterrâneas da gente
de malícia.. de dengo... de mordidas.

Vou embora de escrevências
mas de ler vocês não deixo não.

Fiori, que é Lampião, Maria Bunita e Corisco
tudo junto na mesma ramagem

Lia, meu Lião minha bonina
( já me odiou com carinho e já me carinhou com zanga )
tem uma cachaçinha de alambique que eu trouxe do Quilombo Cafundó lhe esperando viu?
Minha amiga de garras e patas e coração de doce de batata-doce

Luiz, catalizador:
cata
aliza
a dor
e depois diz:
"tô misturando mpb dos anos 30 com rock'roll"
Valeu pela mandioca digital, pela ação.

E bem-vindos os novos enchuvarados:
Venham, venham!
remar!

Longa vida ao Blog!
Fértil arado.

Fernanda Rodrigues de Miranda