quinta-feira, 30 de setembro de 2010

só Luis Melodia salva...

será que foi meu poema que assustou ele?
(a fenda, a escada de incêndio)

ou terá sido meu elogio ligeiro a todo aquele escancaro de arte bem na minha cara?

viver é tão ardido...
acho que vou evitar.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Chuva

Era a janela do meu quarto.

Eu via a chuva
cair sem tempo
e a ventania.

A chuva só vinha pesada
quando
ventava.

Jabuticabeiras gritavam
meu nome
numurrolongo.

E no fio das coisas
estendido
de varal sem roupas
eu atravessava o quintal.

Era o caminho que me levava
para o mundo lá fora
no movimento instável de tudo.

Meus pés sabiam
a linha suave
da cor desmanchada
do aguaceiro...

Chovia porque chovia
e eu ainda pequeno.

Na cozinha,
junto ao pão,
minha mãe rezava,
pedia tanto,
com tal fervor,
que o céu parasse.

Pedia tanto, tanto,
com tal fervor...

Não imaginava
que eu me equilibrava
na alegria.

Queimava palmas
à boca do fogão
(bentas e secas).
Palmas, acalmai...
(a fumaça das cinzas
sequer alcançava o teto)

Nem imaginava.

O Deus a ouvia
e me esquecia.

A chuva então se punha branda
e meu corpo no ar
fugia pro chão de tacos
ao lado da cama.

Meu mundo voltava
ao sussurro descansado
da garoa.

Por tempo eu esperava
o retorno da água,
do ar girante,
do trovão,
de algum relâmpago.
Dormia.

No meu sonho, jabuticabeiras
Gritavam
em meio à alegria
do vento que havia passado.

Rua

E o que vemos são pessoas
Movendo apressadas
O trajeto da manhã.

Enquanto mulheres,
Na sua jornada múltipla,
Pela rua, pela rua,
Tecem a engrenagem dos dias.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Oh, labareda te encostou

Labareda
O teu nome é mulher
Quem te quer
Quer perder o coração
Rosa ardente
Bailarina da ilusão
Mata a gente
Mata de paixão
Labareda- Vinícius de Moraes

sábado, 25 de setembro de 2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

reza

Saluba Nanã!
me proteja.

Minha Mãe,
força de tanta força
na minha cabeça

eu visto um colar de botões brancos.

O que fecha abre
o que abre,
fecha
e tudo são círculos.

Tudo são estradas.

Elementos da lama, da muita força das idades
me proteja

que eu preciso caminhar rente.

Minha Mãe,
respeito e chão.

Que tudo são águas.

mãe mulher Iracema,
grávida de mim
tinha desejos imensos de comer terra.

A casa era de barro.
Ela madrugava insônias em busca de colheres,
raspava a parede, o barro da parede, de desejo que tinha
e comia.

mãe mulher Iracema,
guerreira de fala pequena,
de olho exato, de couro
nos pés
pilão.

Saluba Nanã!
me proteja minha Mãe.

Que tenho choros desconhecidos no ventre.

Proteja das calmas, proteja das dúvidas.

Senhora de idades incontáveis
Firme no meio do escuro
Firme desde o saco da criação
Firme Orixá.

Minha Mãe, e se não for?
Perguntas não há.

Mulher de placenta de palito de dendê
me receba.
Porque eu vou nascer.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010


"A natureza criou o tapete sem fim que recobre a superfície da terra. Dentro da pelagem desse tapete vivem todos os animais, respeitosamente. Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem." (Monteiro Lobato)

Breve Historia da MPB (1a. parte)

Estou sempre discutindo o porquê da minha insistência e prazer em ouvir, conhecer e estudar os nomes históricos de nossa MPB, em que se destaca, ao meu ver, o Samba Carioca e o Paulista. Tentarei explicar esse porquê, começarei por uma simples relação e um pouco da história de alguns gênios de ritmo, voz, melodia e letra/poesia que surgiram entre as décadas de 20, 30 e 40.

Pixinguinha, o maior músico da história da MPB, tocava diversos instrumentos com desenvoltura, especialmente a flauta e o saxofone; escreveu dezenas de músicas, como, por exemplo, Carinhoso, uma das composições mais conhecidas e tocadas em nosso país; fez incontáveis arranjos durante o tempo que trabalhou como orquestrador para gravadoras brasileiras; foi quem transformou o chorinho num estilo musical, estilo comparado ao jazz estadunidense pela capacidade de improvisação.

“Mas eu acho que o choro, acima de tudo, assim, de uma forma parecida com o jazz, é um espírito, uma maneira de tocar, de frasear, de sentir a coisa da improvisação, por exemplo, que existe nas duas músicas, mas que é muito diferente numa e na outra. É, o choro tem muito mais... A improvisação é menos ... A improvisação no choro é uma coisa muita mais rítmica (...) Cada vez se descobre que ele é maior do que se pensava. E eu acho que isso é interessante pro brasileiro ficar mais ligado e também sentir um pouco uma dimensão mais ampla, mais universalizante da coisa, da figura, porque o Pixinguinha é grande demais, tem que ser muito estudado e muito tocado, tem muita coisa para fazer sobre esse assunto (...) E teve uma vida toda muito interessante. Eu acho que foi um sujeito fiel a tudo que gostava, que acreditava, a coisa das raízes africanas, foi o cara que fez a síntese do choro, um dos pais da orquestração no Brasil, um monte de coisas.” Henrique Cazes, Programa Ensaio, TV Cultura, 1993.

“Em 1971, um daqueles momentos que levavam seus amigos e considerá-lo santo: sua mulher, dona Beti, passou mal e foi internada num hospital. Dias depois, foi ele acometido de mais um problema cardíaco, foi também internado no mesmo hospital, mas, para que ela não percebesse que também estava doente, colocava um terno nos dias de visita e ia visitá-la como se estivesse vindo de casa. Dona Beti morreu no dia 7 de junho de 1972, aos 74 anos de idade, e ele no dia 17 de fevereiro de 1973.” Pixinguinha, Vida e Obra, Sérgio Cabral.

Pixinguinha gravou, em 1968, o disco intitulado Gente da Antiga, com a presença de João da Bahiana, um dos pais do samba, que foi quem introduziu o pandeiro no samba e um dos maiores ritmistas do prato com faca, que nada mais é que tocar um prato de barro com uma faca de serra, extraindo disso uma sonoridade ímpar. Nos poucos discos que conseguiu gravar, sempre privilegiou os ritmos africanos, gravando corimás, com algumas palavras em dialeto africano, pontos de macumba de sua autoria, macumbas como Sereia e Folha por Folha e ritmos afro brasileiros como Lamento de Inhançã e Lamento de Xangô. Se não bastassem esses integrantes, o disco contou com a presença imponente de Clementina de Jesus, a mais impressionante voz já existente na música brasileira, descendente de escravos, pode-se dizer que sua voz era a ligação entre a senzala e o samba, África e Brasil. “Ficou conhecida como a Rainha Ginga ou Quelé, a primeira homenagem foi dada devido a sua importância e grandeza na música popular, e a segunda devido à corruptela carinhosa de seu nome. (...) Seu pai foi mestre de capoeira e violeiro. Com a mãe, aprendeu os cantos de trabalho, partidos-alto, ladainhas e jongos, assim como corimás e pontos de macumba. Trabalhou muitos anos como empregada doméstica e somente aos 63 anos começou a carreira artística.” Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. O disco foi gravado em apenas duas semanas, contava com músicas de domínio público que abordam temas das religiões africanas, sambas e choros consagrados, executados com maestria e total harmonia entre os músicos e cantores, pode ser visto como uma apresentação de luxo para quem quer conhecer os estilos, um dos maiores clássicos da MPB.


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Velamar

Brinco com palavras
Pra me esquecer um pouco.

E fecho o navegar,
Atravesso oceanos,

Sem âncora mergulhada.
A vida deveria ser suave.

Brinco com palavras
Por ter preguiça de dizer.

Apenas por brincar.
A vida não deveria ser séria.

É esquecimento.

E no sono em vento e velamar
outra vida se faz.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Salve o Povo Xucuru

Vejam o Documentario no endereço abaixo:

http://www.nacaocultural.pe.gov.br/documentario-xicao-xucuru/


O grupo Mundo Livre S.A. fez uma música em homenagem ao Cacique Chicão chamada "O Outro Mundo de Chicão Xukuru"

Numa faixa de terra de 28 mil hectares
localizada no Agreste pernambucano,
habitam cerca de 8 mil seres da espécie humana.

Eles não querem vingança
Eles só querem justiça
Querem punição para os covardes assassinos
de seu bravo cacique Chicão

Eles não querem vingança
Eles só querem justiça,
justiça, justiça

Distribuídos por 23 aldeias
Permanecem resistindo após quase 500 anos de massacre e perseguições.
Reivindicando, nada menos, que o reconhecimento e a demarcação da terra sagrada que herdaram de seus ancestrais.

Ele não vai ser enterrado
Ele não vai ser sepultado
Ele vai ser plantado
para que dele nasçam novos guerreiros

As autoridades policiais tinham pleno conhecimento dos atentados e das ameaças.
Ainda assim, nada fizeram para evitar mais este crime, muito conveniente para os latifundiários da região.

"Nós não temos a terra como um objeto de especulação
A gente sabe que quando Deus criou a terra, Ele não criou para ninguém fazer da terra um comércio"

Muito conveniente para os latifundiários da região
Justiça...

Comenta-se que alguns deles têm parentesco com certos figurões da "República Branca", entre eles um, apelidado pelos federais de "Cacique Marcão".

"Então se nós dependêssemos unicamente dos parlamentares brasileiros, então, dos índios do Brasil, não existiria mais nenhum, o resto já tinha sido todo morto queimado, assim como queimaram Galdino"

Ele não vai ser enterrado
Ele não vai ser sepultado
Ele vai ser plantado
para que dele nasçam novos guerreiros

Ele vai ser plantado
assim como vivia
debaixo das vossas sombras
Para que de vós nasçam novos guerreiros.

E a nossa luta não para
E a nossa luta não para
E a nossa luta não para

"Vocês têm certeza, têm consciência de que eu sou ameaçado"
"de que eu sou ameaçado..."

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O pasto e o mar

Quando a noite chegar
para interrogar meu dia,
procurará nos meandros
da claridade
aquilo que foi quase sol
ao sol a pino,

a penumbra de árvores
sozinhas entre pastos
em linha reta
cortados por estradas de terra,

o pó pegando
no zunido intermitente
da vespa contando as horas
que esperavam no dia quente.

Todo o sono que eu tinha,
movia na rede da tarde.
(outras redes davam peixes)

O mar longe, tão longe,
excluía o pêndulo de tudo,
dos dias atravessados,
da minha infância...

Ele tinha um jeito molhado de moringa,
esse mar,
do tempo deixado de lado
da água dum rio enorme oceano.

O mar circundava o mundo.

E no canto do grande chão
estava eu.
Em busca das poucas sombras
encurtadas pelo sol.

Velas passavam
no pano da água,
jangadas sem peso
na imaginação.

Outras redes
mansamente davam bois.