sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

passeata

os passos que dei ontem
vêm cheios dos meus silêncios
mal medidos

no canteiro dessa avenida bruta
ou vendo os peixes que adormecem no chão
meus pés descansam

não há movimentos ou perguntas
posto que o dia foi bravo
o dia preparou a maciez da noite

há sempre possibilidades no meio da tarde
alguma luz que recupere a esperança
de que a liberdade ainda rebente

mas está longe e morre a cada eleição
a cada discurso montado
a cada recado da mídia

a liberdade é o silêncio
dos passos que dei ontem
cuidem de mim

eles não precisam de voz
imagem
ou aplausos

navegam o mar dos dias
e abrem amplo espaço
do continente

adormecem como esses peixes
plantados adiante
dentro da terra

e nadam ao curso de cavernas subterrâneas
quando querem ser livres
aguardam a chuva

para brotarem do solo
como palavras na manhã
em campo novo

e seus frutos serão o rio
comprido imenso
que passa ao lado

ainda que não sintamos
nem a umidade nem o sabor
nem a paz

do seu leito.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A próxima distância

O vento enganado que me esconde a noite
Tem por si no engano
De me encontrar.

Se pedras arremesso me vem na fronte
O afago amargo
Do ar doce.

Onde planto flores em risco azul
Pintam-se madrigais
De um soco exato.

A poesia vira mentira de nossa verdade.
E verdade escrita
É ficção, alegoria.

Nada do mundo
Corre triste.

O que sinto é triste.

O dia passa com o que penso.
E morre em palavra usada
Quando posto no papel
O tempo do lápis
Esquecendo o grafite
No espaço branco.

Espaço infinito
Que não suporta o tamanho da vida.
Tão preciso e pequeno.

Fez um tempo de água
Fez um tempo de pedra.

Viver é partir sempre
No mesmo lugar.

Bem longe
Bem longe.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Breve Historia da MPB (6a. parte)


O Programa chamado Ensaio, antes MPB Especial, produzido desde 1969, exibido pela TV Tupi e até hoje pela TV Cultura, trás, de uma maneira mais superficial, o artista convidado executando suas composições ou musicas mais conhecidas entre depoimentos sobre sua vida e carreira. Olhando mais de perto conseguimos captar em suas palavras, na maneira que se expressa, nas historias de sua vida e dos relacionamentos com outras figuras históricas, a essência deste artista como pessoa [sua alma], sua verdadeira qualidade artística, no caso dos ‘apenas’ compositores conseguimos perceber toda sua noção musical e total domínio do fraseado por mais que não sejam grandes interpretes. Para que possamos perceber tudo isso, precisamos estar livres de todo e qualquer pré-conceito musical, porque em alguns casos ouviremos grandes interpretações, sem aquela voz macia e tal, mas carregadas de emoção e apuro técnico, valiosas perolas musicais.

Fernando Faro, diretor do programa, teve em alguns casos uma sorte grande, como o que aconteceu com Roberto Martins, pouco badalado compositor, mas um dos grandes da era de ouro da MPB, nascido em 29/1/1909 e tendo falecido em 14/3/1992, gravou o programa em 1991, por questão de meses foi possível ter seu depoimento e interpretações emocionadas como a de Favela, feita em parceria com Waldemar Silva, seu primeiro grande sucesso e talvez o maior, gravada por Francisco Alves em 1936, recebeu mais de 100 gravações; teve também enormes sucessos na voz de Orlando Silva, com Meu Consolo é Você e Dá-me Tuas Mãos; Ciro Monteiro gravou Beija-me; Nelson Gonçalves projetou-se com uma composição sua, o foxRenuncia; fez em parceria com Wilson Batista, o samba precursor da questão social Pedreiro Waldemar, que estourou no carnaval de 1949, interpretado por Blecaute.

“Que eu gravei até agora? Gravei 384 musicas, mas tenho 56 anos de carreira. (...) Conheci. Desde menino, conheci a praça Onze. Você quer que eu fale, mas não vou falar das escolas de samba, porque antes tenho que falar como era a praça Onze. A praça Onze, vocês deviam conhecer. Tinha a rua Senador Eusébio, a Visconde de Itaúna e tinha a rua Santana e Marques de Pombal, ela ficava no meio, onde tinha a gafieira As Colombinas. A Kananga do Japão nunca foi na praça Onze. (...) Vou te falar dos batuqueiros. Depois que acabava o carnaval e as batalhas de confete que tinha na praça Onze e naquelas ruas do Centro, à meia-noite, o povo se recolhia. Então vinham os malandros, o Quico da Favela, o Waldemar da Babilônia, o Madureira do Engenho Velho, O Brancura do Estácio, o Mulatinho do Catete (esse cara foi morto com 18 tiros na praça Onze, quando ele quis pular a grade da escola que tinha ali e não conseguiu, por causa de batucada). O Mulatinho do Catete era o malandro do Catete. Naquela época, cada lugar tinha um malandro e havia a batucada pesada, aquela Derruba, Bota no Chão. Quando chegava a policia, era um bate-fundo medonho, todo mundo corria. Essa é a praça Onze primitiva.”

E ele continua falando sobre a batucada, muito parecida com a roda de samba conhecida em São Paulo como tiririca ou jogo da pernada. “Era uma roda de samba e ainda tinha o ‘compadre’. Na batucada tinha sempre um ‘compadre’. É aquele batuqueiro que, quando você pegar um cara que é faixa dele, entra no meio e não deixa pegar. Essa cara passa, canta, empurra a perna devagar e dá a volta, vai cantando. Quem cantava era ele e os outros respondiam. Era uma espécie de partido alto. (...) O partido alto não é como eles dizem agora que é o eles dizem agora que é pagode. Pagode é o lugar onde você vai cantar e não a musica. A música era

partido alto. Naquela época, eu fiz uma musica:

O teu riso tem, tem, tem, tem

Tem qualquer coisa que me domina, meu bem

O teu riso tem, tem, tem, tem

Tem qualquer coisa que me domina, meu bem

Tua boca é uma alvorada

Nunca vi sorriso assim

Sem teu riso não sou nada

Dá um sorriso pra mim.

De lá respondiam:

Mina minha menina

Mina dos olhos veludos

Se o teu pai ... homem sério

Teu amor teria tudo

A noite toda era assim, mudava um refrão e botava outro.”