domingo, 30 de agosto de 2009

Além do Céu




Além do céu eu vou buscar,
forças para poder te amar,
forças para poder lutar por ti,
forças para poder vencer contigo!


Além do infinito eu vou atrás,
Atrás do seu amor,

Atrás de você,
Se for preciso,

Te busco aonde estiver,
Tudo por que sem seu amor, minha vida,
não tem mais cor.



Dimitre Nascimento Vieira

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Um sopro histórico de MPB. (5ª. Parte)

“O Orlando Silva fez sucesso demais. Era demais, o homem era demais, nunca vi. Orlando Silva foi demais, mais do que Roberto [Carlos] e muito mais pesado. Porque não era a meninada que ia. Ia homem atrás do Orlando Silva, moça, mulher, gente já de idade, a molecada. Era um cartaz espetacular. Ele era demais, meu filho. O Orlando enchia o largo do Colombo, no Brás, que é uma enormidade, ficava assim para ver o Orlando Silva cantar, mudava o trafego. O Orlando foi o máximo em São Paulo. (...) Chico Alves também fazia muito sucesso em São Paulo. Não era muito amigo, não, mas andava junto com ele. Quando ele ia para São Paulo, a gente jantava muito junto. Diziam que ele era pão-duro. Não era pão-duro nada, coitado do Chicão. Para mim era meu amigo. A gente ia jantar, ele não gastava muito, não, que não era bobo, ele não gastava muito, mas, se a gente pedia duas sopas, ele pagava a minha sopa. Ele dizia ‘Me dá duas sopas ai, dois minestrones’. E pagava o meu. Ele fumava Petit Londrino e era cada tragada um tombo, sabe, um cigarro forte, cada tragada um tombo. Eu queria fumar, ele me dava cigarro. Meu amigo ele.” Adoniran Barbosa, no Programa Ensaio gravado no dia 28/11/1972, o mais representativo compositor popular paulista, posto ao qual chegou depois de fazer sucesso como radiator, humorista em várias emissoras de radio, ator de cinema e até parceiro (por correspondência) de Vinícius de Moraes, com quem fez o antológico Bom Dia Tristeza. Criou tipos, compôs poesias, cantou crônicas, garantiu lugar na história da música brasileira, até sua morte em 23/11/1982, com 72 anos. Fazia música falando errado, mas, como dizia, “pra falar errado tem que saber falar errado”. Criou diversos sambas errados, letras nas quais relatava situações às vezes trágicas mas com uma grande pitada de humor ou ironia.

“Em Valinhos eu não trabalhei. Nasci lá, depois vim pra Jundiaí. De Jundiaí fui para o Grupo Escolar Coronel Siqueira Morais. O meu número era 245, elefante. Nunca deu esse número no bicho, até hoje eu jogo, não dá nunca. Dali, no Grupo, fui trabalhar no hotel, entregar marmita. Entregava marmita, viu, querido amigo, e no caminho eu tinha fome, sabe, e abria a marmita e contava os bolinhos. Se a família tinha quatro pessoas e ia oito pasteizinhos ou ia dez, eu comia dois no caminho. Era malandrinho já. Não era malandragem, era espertinho. Tinha fome. Não era malandro, era fome. Sabe o que é malandragem? Malandragem é fome.” Com 10/12 anos de idade começou a trabalhar em metalúrgica, em fiação, pintor de paredes em Santo André, também encanador de água e esgoto. “Depois fui mascate, vendia retalhos na rua, retalhos de tecidos, vendia meia. Tanta coisa que eu fui e só deu pra fazer samba. Fazia samba no caminho, andando. Eu já queria fazer samba. Eu nasci querendo fazer samba, não tem começo, já nasci querendo fazê samba. Eu não parava em emprego. Balconista, se uma freguesa queria comprar um negócio eu dizia ‘Pois não’ e começava a batucar no balcão ‘Qual senhora quer, qual é que é?’. Vivia batucando, mandavam logo embora.”

“Na rádio entrei porque eu quis entrar. Eu quis entrar no rádio e ninguém quis. E até hoje ninguém quer, até hoje batem na minha cara a porta. Para entrar no rádio foi duro. Foi duro, entrei como calouro na Rádio Cruzeiro do Sul, no largo da Misericórdia. Ali eu cantava um samba do Noel Rosa, bonito, que se chamava Filosofia. O Jorge Amaral era o locutor. Aí eu fui aprovado como sambista pelo Paraguassu e tudo:

O mundo me condena

E ninguém tem pena

Falando sempre mal do meu nome.

Deixando de saber

Se eu vou morrer de sede

Ou se vou morrer de fome.

Mas a filosofia

Hoje me auxilia

A viver indiferente assim.

Nesta prontidão sem fim,

Vou fingindo que sou rico,

Pra ninguém zombar de mim.

Não me incomodo

Que você me diga

Que a sociedade é minha inimiga.

Pois cantando neste mundo

Vivo escravo do meu samba,

Muito embora vagabundo.

Quanto a você

Da aristocracia,

Que tem dinheiro,

Mas não compra alegria,

Há de viver eternamente

Sendo escrava dessa gente

Que cultiva a hipocrisia.

Noel Rosa, meu amigo Noel Rosa, o Queixadinho.”

“Eu tenho uma porção de amigos. Todos são meus amigos, você é meu amigo, todo mundo é meu amigo. Eu ando com todo mundo, me dou com todo mundo, sabe? Francisco Alves, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves, Araci de Almeida, Orlando Silva, Ismael Silva, Roberto Silva, J. Aimberê, Moreira da Silva. Todo mundo aí, tudo meu amigo: Jorge Goulart, Nora Ney, Emilinha Borba, Rui Rei, tudo meu amigo, Jorge Veiga, Risadinha, tudo. (...) Como que faz samba eu não entendo, não sei responder. Eu faço. Por exemplo, eu faço. Eu nunca morei na Vila Esperança e fiz Vila Esperança, nunca morei em Jaçanã e fiz Trem das Onze. Fiz Pensão do Bexiga, nunca morei no Bexiga. Só freqüentei muito o Bexiga, o Nick Bar, na Major Diogo.”

“Eu não, moro perto de maloca, encostado, vizinho de maloca. Minha casa é aqui e aqui assim tem uma porção de maloquinhas bonitas. Eu moro aqui na Cidade Adhemar, agora Vila São Paulo. Eu sou corintiano, mas moro na Vila São Paulo e lá também tem maloquinhas. Na minha rua não tem luz, não tem água, é poço, se quiser, e fossa, se quiser. Fala para o seu Ferraz [então prefeito de São Paulo] dar um jeito lá. Você fala para ele que não tem luz na rua. Eu tenho que ir para casa cedinho por causa dos assartante. Já roubaram nosso violão, nosso pandeiro.” Apelidado de “Noel Rosa paulista”, foi um símbolo do chamado samba paulista/paulistano, entre seus maiores sucessos estão Trem das Onze, Saudosa Maloca, Samba do Arnesto, Tiro ao Álvaro, Prova de Carinho, Um Samba no Bixiga e Iracema que reproduzo abaixo:

“Iracema, eu nunca mais eu te vi
Iracema meu grande amor foi embora
Chorei, eu chorei de dor porque

Iracema, meu grande amor foi você

Iracema, eu sempre dizia
Cuidado ao travessar essas ruas
Eu falava, mas você não me escutava não

Iracema você travessou contra mão

E hoje ela vive lá no céu
E ela vive bem juntinho de nosso Senhor
De lembranças guardo so
mente suas meias e seus sapatos
Iracema, eu perdi o seu retrato.

- Iracema, fartavam vinte dias pra o nosso casamento
Que nóis ia se casar

Você atravessou a São João
Veio um carro, te pega e te pincha no chão
Você foi para Assistência, Iracema
O chofer não teve curpa, Iracema

Paciência, Iracema, paciência

E hoje ela vive lá no céu
E ela vive bem juntinho de nosso Senhor
De lembranças guardo somente suas meias e seus sapatos
Iracema, eu perdi o seu retrato.”

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Zanga de Bamba.

Onde está!? O que está!?

Que você procura...

Que você encontrou...


No grito o que derrama desse aqui?!


Tem horas em que a zanga é cansaço de luta brava travada mesmo no miúdo da lida.

Suspende a próxima cadência do samba que vinha sincopado,

bem marcado – destilando o sofrimento, crescendo em amor dentro do peito – ;

sua echarpe marca o tempo fechado nessa roda,

e é quando a palavra dela ficou já sem testemunha

para lançar no mais longe ainda.

Deixa olhar para brisa moreno jurando os próximos passos juntos no seguir dos seus.


Uma zanga toda, Samba acordou e reclama em voz de rock n’ roll,

duplamente pra você entender que hoje, nem todo dia é assim...

domingo, 23 de agosto de 2009

Acorda, vem ver a lua ...


acorda, vem ver a lua
que dorme na noite escura
que surge tão bela e branca
derramando doçura
clara chama silente
ardendo meu sonhar
As asas da noite que surgem
e correm o espaço profundo
oh, doce amada, desperta
vem dar teu calor ao luar
Quisera saber-te minha
na hora serena e calma
a sombra confia ao vento
o limite da espera
quando dentro da noite
reclama o teu amor
Acorda, vem olhar a lua
que brilha na noite escura
querida, és linda e meiga
sentir meu amor e sonhar

Composição: Heitor Villa Lobos e Dora Vasconcelos.

Flor do meu jardim.

Flor do Meu Jardim !

-Ó! Flor do meu jardim
Não venhas afarpalhar
O meu coração.
Tenhas dó de mim,
Não me faças chorar.
Já não te basta, ter que,
Dividir-te com a lua,
Com o sol e o com o ar.
Tenhas dó, deste pobre jardineiro,
Que te plantou te regou,
Mas que não pode te apanhar.
Assim é o meu penar de amor
Que vê aquela linda menina
Botão em flor a desabrochar,
Que as mãos de outro jardineiro
Suas pétalas vão acariciar.

José Aparecido Botacini

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Rock'n'Roll

Caminhos

Fragmentos de Uns e Outros
Enquanto houver alguem por trás das janelas
não deixarei morrer minhas faces belas...
Por mais que o peso do Tempo me force a permanecer no passado...
Sou da América Latina, atina!
Enquanto teu olho me buscar por trás da porta,
lavo a roupa pra fomentar a pira, a ira!...
Seguirei se sentir teus passos pisando o chão e
não voltarei mais a enganar nossas férteis ilusões.
Paixão e não.
Horizonte de mergulho próximo e urgente...
Se as artérias de minhas mãos se parecem com as de pedra
e os pelos em meus braços se cruzam contra minhas idéias,
continuo, permaneço calmo e talvez sereno...
E talvez atine a fonte de tua força
e te faça forjar na rigidez de minha face
o sorriso tímido escondido nas trincas...
A vida é o avesso,
preciso de uma folha à parte.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Chuva fina.

A chuva fina polvilhando a Terra
Como cortina úmida de seda,
Atrás de si o sol radiante encerra;
Pinta de cinza o mundo em sua queda;

Confina a vida aos casacões de lã;
E nos convida à improdutividade:
Quem sabe os planos deixar pra amanhã?
Pro outro ano? Ou pra eternidade?

O tempo passa enquanto a chuva cai,
E a Terra abraça a água, e se embriaga,
E balbucia um poema de amor;

E a chuva embebe (enquanto o tempo vai)
Quem não percebe qual torrente o traga:
Se a chuva fria ou sua própria dor...

Ederson Peka

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Resistência

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

In versão climática

Chove no Sul,
e no entanto nada me tira da cabeça que o que vivemos é seca, deserto.
Mas abre em nós qualquer coisa que quando chega à veia quer bater tambor!

Pedregulhos ferem nossos pés pra esse solado frágil que adquirimos sem aviso.
A poeira branca foge de vista, embaça e cria paredes em nossos olhos.

A fome é aguda no novo shopping center.

Palavras mal ditas calam-me.
Quero novamente o riso bobo-da-corte me esparramando pra além do que é constatação apenas e ferina. Sem saber fazia mais e arava brava.

O que tenho são só pesadelos ainda, o sonho é esse, dessa casa.
Chove no Sul como reticências pedindo uma brenha pro ato de afirmação!