sábado, 13 de novembro de 2010

Bastidor de palavras

Quando eu escrever
Meu último poema

Venha o sol cobrir
Toda palavra
Numa sombra tênue
Toda palavra
Que não costurei à luz.

À luz dos campos
Do meu Brasil.

Um homem a vida inteira atravessa
As palavras.
Sal de jangada
Na margem do rio imprime
O voo do pássaro.
A mão breve leva enxada
E água.

A vida vem no fim.

Quando eu escrever
Meu último poema
Porei o bastidor no mar.

Aves de agulha e linha
Terão no bico a imagem
E a bússola aguda
Apontará ao norte
A morte
Bordada no texto.

Palavra é sempre sempre
Peixe pescado na rede.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Breve Historia da MPB (3a. parte)

Para enriquecer as historias, destacarei algumas letras, que se destacam em meio a tantas obras de arte. Tivemos diversos ilustres desconhecidos do “grande público”, como Cândido das Neves, um compositor e poeta negro de muitas qualidades, que morreu muito novo, de tuberculose, em 1934, deixando letras como A Última Estrofe, Lagrimas, Apoteose do Amor eCéu Moreno, que transcrevo logo abaixo.

Céu Moreno. Candido das Neves.

Vem ó musa, vem cantar ...
As glórias do Senhor
eleva o estro meu
Vem, ajuda-me a ensinar
a Deus fazer um anjo da cor que Ele não tem céu.

Deus fizeste só então nevados serafins
de olhares tão azuis
Deus, perdão meu Deus, mas esqueceste não fizestes um anjinho moreninho de áurea luz.

Senhor, deixai quando eu morrer
minh'alma em penitência aqui mesmo sofrer
Não quero a vossa santa luz só de anjos liriais
de olhares tão azuis.

Deixai que minh'alma em seu fervor minore a sua dor aqui entre os rosais
Deixai, deixai minh'alma entre as verbenas
entre as rosas bem morenas
moreninhas ideais.

Se São Pedro se enganasse Ilustração por Julia Leonel
e um dia eu lá entrasse
sem mesmo Deus saber
eu poria em frente aos anjos
um turbilhão de arcanjos
morenos a resplandecer.

Mas um dia hei de tentar
e um anjo hei de levar
aos pés de Deus ... e enfim
hei de suplicar a Madalena
que também fique morena
que é formoso um céu assim.