sexta-feira, 29 de abril de 2011

Noite. (Noite é tarde deixada para trás)

A tarde deixada para trás.

A violência das mãos
Segmentadas
Agora some
No risco da estrela
Na atitude do céu
Que o inverno veste.

É um céu paciente. Em pontos de luz
Costura a noite.

O prazo da vida escoa por entre as linhas.

Ah a toada do tempo
Nas pedras da estrada
No canto sob janela antiga
Nos passos por tantas ruas pequenas.

O tempo cantor ensinou os pássaros.

Eles sabem que a infinita medida
Limita nossa canção na terra.

Lavrar a alma é ato de plantio mais corajoso.

Por isso cantam-se canções enquanto a semeadura
É imperativo para a flor da aurora.

A tarde deixada para trás.

A noite é cama para as mãos que carregam sementes.
A noite é descanso para a fertilidade da terra.
Pão para sua fome.
Fim da nossa vida.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Breve Historia da MPB (7a. parte)

Roberto Martins também revela uma face de Francisco Alves pouco conhecida ou imaginada por todos, afinal ele era o Rei da Voz. “Conheci. Era um cara bom. Chico Alves era bruto, mas era bom de coração. Era Bruto. Ele fazia coisas de criança às vezes. Ele estava conversando com você e cuspia. Você levava ele numa casa para apresentar uma mulher e, de repente, ele cismava e saía porta afora. Ele era meio queimado. (...) A história da Cai Cai? O editor arranjou a gravação e mandou que eu mostrasse ao Francisco Alves. Mas eu tinha cantado a música para o Joel. Eu fazia o seguinte: o primeiro que gostar grava. É como amor, não espera muito, senão não ganha. Aí cantei para o Joel e ele gostou da musica: ‘Você me dá, Roberto?’ – ‘Não sei. Me deram uma incumbência para cantar para o Chico.’ – ‘O Chico não canta esse estilo. Esse estilo batucada não é do Chico.’ Aí fui cantar para o Chico e cantei mal mesmo: ‘É essa música? Essa não’. O Joel gravou e a musica começou a estourar logo no inicio. Ai o Germano [Augusto] veio me dizer: ‘Roberto, o Chico ta doido te procurando, quer falar contigo. Ele está aborrecido. O que tu fez a ele?’ ‘Num sei.’ Eu vi logo que era o negocio da musica. Mais tarde, ele me encontrou no Nice: ‘Você pensa que é malandro? Eu sou malandro da Lapa. Eu que sou o Chico da Lapa.’ – ‘O que há Chico, está zangado por quê? Que isso.’ – ‘Não fica com deboche.’ – ‘Não to com deboche. Diga pra mim o que é?’ - ‘Você cantou pra mim, me engrupiu e depois foi dar para o Joel. Não gravo mais nada seu’. Ficou uns tempos zangado comigo, mas depois gravou uma porção de coisas.”

Luis Nassif considera Roberto Martins o Rei desconhecido do Samba Sincopado. “Quando leio essa produção acadêmica sobre a bossa nova, sustentando que a música brasileira anterior era composta só de dramalhões, coloco no aparelho as músicas de Roberto Martins e me dá uma pena desses pesquisadores…”

“Favela, oi favela
Favela que trago no meu coração
Ao relembrar com saudade
A minha felicidade
Favela do sonho de amor
E do samba-cançãoMinha favela querida
Onde eu senti minha vida
Presa a um romance de amor
Numa doce ilusão
Em uma saudade bem rara
Na distancia que nos separa
Eu guardo de ti esta recordação
Minha favela!
Hoje tão longe de ti
Se vejo a lua surgir
Eu relembro a batucada
Começo a chorar
Favela das noites de samba
Berço doirado dos bambas
Favela, és tudo que posso falar.
Barulho no morro
Foi o que houve num arrasta-pé
Quando Pedro deu um beijo
Na cabrocha do José
Enquanto eles brigavam
Todo mundo assistia
Foi preciso que a policia
Desse fim à valentia
José morreu, e Pedro foi condenado
E a cabrocha foi com outro que vivia apaixonado
E nunca mais ouviu-se um grito lá no morro
Nunca mais ninguém ouviu um apito de socorro
Barulho, barulho, barulho no morro.”