quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Clara Nunes





Para Paulinha, menina de ouro de Minas.

Alguns classicos eternizados pela nossa deusa dos Orixás.

O mar devia realmente serenar quando Clara Nunes pisava na areia
e a estrela devia indagar a si mesma: a estrela afinal será ela ou sou eu.
"Com sua licença Candeia"

Alvorecer
Composição: Ivone Lara / Delcio Carvalho

Olha como a flor se ascende
Quando o dia amanhece
Minha mágoa se esconde
A esperança aparece
O que me restou da noite
O cansaço, a incerteza
Lá se vão na beleza
Desse lindo alvorecer
Lá se vão na beleza
Desse lindo alvorecer
E esse mar em revolta que canta na areia
Qual a tristeza que trago em minh’alma campeia
Quero solução sim, pois quero cantar
Desfrutar dessa alegria
Que só me faz despertar do meu penar
E esse canto bonito que vem da alvorada
Não é meu grito aflito pela madrugada
Tudo tão suave
Liberdade em cor
O refúgio da alma vencida pelo desamor


As Forças da Natureza

Composição: João Nogueira/Paulo Cesar Pinheiro

Quando o Sol
Se derramar em toda sua essência
Desafiando o poder da ciência
Pra combater o mal
E o mar
Com suas águas bravias
Levar consigo o pó dos nossos dias
Vai ser um bom sinal
Os palácios vão desabar
Sob a força de um temporal
E os ventos vão sufocar o barulho infernal
Os homens vão se rebelar
Dessa farsa descomunal
Vai voltar tudo ao seu lugar
Afinal
Vai resplandecer
Uma chuva de prata do céu vai descer, la la la
O esplendor da mata vai renascer
E o ar de novo vai ser natural
Vai florir
Cada grande cidade o mato vai cobrir, ô, ô
Das ruínas um novo povo vai surgir
E vai cantar afinal
As pragas e as ervas daninhas
As armas e os homens de mal
Vão desaparecer nas cinzas de um carnaval (2X)


Juízo Final

Composição: Nelson Cavaquinho/Elcio Soares

O Sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente
É o juízo final
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer
O Sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Música que é Silêncio

A música é o silêncio,a quietude...nada mais...
Eleva os pensamentos, Acalma a Alma .

Um pouco de Noel Rosa

Último Desejo

Composição: Noel Rosa

Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o
seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete,
sem luar, sem violão
Perto de você me calo, tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo mas meu último desejo
você não pode negar
Se alguma pessoa amiga pedir que você
lhe diga
Se você me quer ou não, diga que você
me adora
Que você lamenta e chora a nossa separação
Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não
presto
Que meu lar é o botequim, que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida que você pagou pra mim


Quem não quer sou eu

Composição: Noel Rosa e Ismael Silva

Quando eu queria o teu amor
Não davas atenção ao meu
Pra mim tu não tens mais valor
Agora quem não quer sou eu
Observo que hoje em dia
Quem não quis diz que me quer
Cabe muita hipocrisia num capricho de mulher
Vou viver desiludido
Sem amor, sem ideal
Pra não ser submetido a desejo tão banal
Ao ouvir tuas propostas
Com tão falsas frases juntas
Achei uma só resposta que responde mil perguntas
Hás de ter em tua vida
Um destino igual ao meu
Podes ir desiludida, hoje quem não quer sou eu


É Peso

Composição: Noel Rosa / Ismael Silva

É peso, estou pesado
O meu viver é uma sentença
Que eu fui condenado a cumprir
Esta pena o remorso condena
Eu serei sentenciado
Se eu soubesse que a saudade
Não se esquece nem querendo
Não deixava essa amizade
Para não ficar sofrendo
Hoje eu quero e não me queres,
E o remorso que me invade
É saber que tu preferes
Morrer longe de saudade
E quando a lua descampa
Um pandeiro a batucar
Saio da roda do samba
Pra ninguém me ver chorar
Ao azar hoje me entrego
Quem tem peso tem azar
Mas o peso que eu carrego
É a pena de te amar

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Um poeta diaspórico escreveu

Diz o I Ching:
Divino é saber
O que distingue
Você de você

Você dos outros
Do outro você
Você do mundo
Do você do ser

Você num canto
Vive o espanto
Enquanto o outro você
Sai pra viver
Por aí
Tanto pranto, tanta dor
Seu irmão
Pede o seu amor

Diz o I Ching:
Divino é saber
São dois no ringue
Você e você

Você que ataca
Pra se defender
Que beija a lona
Pra poder vencer

Você num canto
Apanha tanto
Enquanto o outro você
Bate demais
Deus do céu
Quanto sangue pelo chão
Seu irmão
Pede o seu perdão

http://www.gilbertogil.com.br/sec_disco_interno.php?id=48


cavuquem lá a faixa 10.

Fresta de segunda-feira

Ao que me escapa
A vida de todos os dias
Foge também o menino
Andando vazio pelas ruas
No frio antigo da minha cidade.

Queria ir à África,
Queria ser a África.

Na manhãzinha úmida da névoa construída
- a noite engenhava sonhos -
Eu ia em busca da missa.
À espera da escola, à espera do sinal estridente.
Meus sapatos pretos acordavam
A calçada ainda dos bêbados do domingo.
Antes da capela, o padre holandês
Triste, triste, triste,
Passava com seu cachimbo à boca,
Equilibrando o grande corpo
Na miúda bicicleta.

E eu me equilibrava no meio-fio!

Queria ir à África,
Queria ser a África.

O tempo depois contou tristezas maiores,
Mais fundas.
Mas colava o material das aulas ao corpo
Acompanhando o sol chegar.

No caminho,
Pardais me davam abrigo,
Pardais carregavam o fim,
Esse fim que nunca acaba,
E na missa eu via o cachimbo
Tragando tudo
Tudo tudo.

Trem no altar.

Então a fumaça
Salvava o menino
Alçava meu corpo
Sobrando nas nuvens
Junto às andorinhas.

Escapava por uma fresta do vitral
E me encontrava com São Francisco,
Laico, sem fé nem rei,
Como São Francisco deveria ser.

E só, nesse momento, eu sorria.
As freirinhas escondiam o rosto da alegria
Mas o padre, por um instante,
Ao me ver ausente,
Acreditava enfim em Deus.

Aquele menino, quando hoje acendo um cigarro,
E sinto a tarde anoitecer comigo,
Senta ao meu lado
E me chama para ver o mar.

E eu não dou a mínima.

Queria ir à África,
Queria ser a África.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Cólera

Letras do disco "Pela Paz em Todo Mundo", lançado em 1986.

É Natal?!

É natal?! É natal?! Se é natal não sei?!
Se é natal?! Se é natal?!
Se é natal não sei!!!
Os pobres ficaram bem mais pobres
Os ricos muito muito ricos
O comércio fica aberto dia e noite
Os presentes e chantagens
Todos trocam sem pensar
para no dia seguinte se odiar. (É natal?!...)

Os assaltos multiplicam
Guerras seguem sem parar
Matam animais a toa, só para treinar
Não preciso de pretexto
Não preciso de natal
Todo dia é importante
Todo dia é igual. (É natal?!)


Direitos Humanos


OH! OH! OH! OH! OH! OH! OH!
Quando eu passo a noite nas esquinas
Esperando um ônibus que nunca vem
Vejo mulheres prostituídas
Tento imaginar porquê,
Vejo moleques rasgados, perdidos
Não tem um amigo mas porquê?

DÊ UMA OLHADA PRA ESTAS VIDAS!
DÊ UMA OLHADA PRA ESTAS VIDAS!
ONDE ESTÃO, ONDE ESTÃO
OS DIREITOS DE VIVER???

Eu me lembro falam na declaração
Que nascemos LIVRES, LIVRES POR IGUAIS.
Mas não entendo se escolhemos
Ou se alguém escolheu por nós
Não está certo, alguns tão ricos
Outros não tem nem um amigo...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Furioso silêncio, registrado

Antes de abrir as cortinas há o ensaio da carochinha

Um terço sou espreguiço diante do precipício inventando genealogias.

Joelho, silencio e franzir de sobrancelhas saíram paternos.

Gigante desajeitado abre alas para olhares no corredor: processos.

Tenho reparado nos sinônimos para detalhe: fenda, cicatriz, beco

No rosto das pessoas.


Muita saudade da idéia de mim que colava.

Agora salto
cerca e envidraço telhados.

Alegria vêm em potes cor de praia,

Na esquina a vida à venda no atacado.

Falar de si é dar movimento ao personagem.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Explicação conveniente

Sossega, canção!
Fazendo poesia não entristeço.
Quem entristece
São os poemas.

Aniversário

Tenho uma palavra guardada
Mas move sem intenção
Seu percurso e sentido.

Às vezes nasce uma árvore
No vento que se resta em ânsia
Outras morre um segredo
Na água que se sussurra em peixe

Manso que corre os canais da minha terra.

Acendo um cigarro.
A vida é feliz pra quem?

A poeira sinto da estrada
O golpe tênue da viola.
Maria, por que chora o sítio
João, por que tanto a dor

Desse roçado de névoa
Dessa marmita do chão?

Tenho uma palavra nua
Que singra terna quando vejo
Mulheres e homens
Partilhando o alimento
Na calçada suja
E o cigarro de depois.

Os carros da avenida,
Os transeuntes satisfeitos,
Me põem só
Ponto no meio do sol insuportável da cidade.
E sequer percebem
Que essa é a minha gente.

Ainda que sua revolta seja surda
E tenha no silêncio seu primeiro e último grito.

Ah, poeira, sinto sua chegada.
Cobrirá a alegria daquele que pensa em paz
E sabe da próxima forma de nascer perfeito.

Ficarei com o defeito.

É mais humano
Mais triste
E não se declara.

No entanto, no campo largo da vida, é a única presença
De quem vê a luz
Depois do parto.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Aos Maranduvás!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

segunda feira

Imagem: Fábio Franco de Moraes


Era depois da esperança de dormir, levantou fazer um chá qualquer.

Clementina e Carolina Maria são ambas de Jesus

Tenho meia fruta pro contado do busão e ganho outra meia na voltinha amanhecendo, rodiada de idas.

A gente vai ali viver um amor eterno e daqui um pouco volta cheia de paninhos sujos pra lavar na pia...

Avesso de verso é revide, adverso da paz: centenas de flores de amora no intervalo do branco (a paixão).

Mas não foi assim.

Era depois de um chá que preparei pra tomar sozinha.

Lá sentada na sombra dos paninhos limpos,


permaneci olhando: "formigas tem uma disponibilidade de dispor da vida que chega a ser

bonito".

Estava escrito na placa no fim do canteiro, ao lado de uma segunda com os dizeres "é proibido

pisar no outro".

Um sopro histórico de MPB. (7ª. Parte)

Outro grande marco na carreira de Geraldo Filme, é a musica “Tebas”, na qual conta a historia do negro escravo, que construiu a primeira catedral da Praça da Sé e também o chafariz da Misericórdia, isso em 1700 e poucos, ele canalizou a cidade, puxando água do vale do Anhangabaú com tubos, feitos com papel velho e betume. Curioso com a expressão, do tempo de seus avós, que denominava quem sabia fazer tudo de tebas: fulano é um tebas. Ele fez uma pesquisa na Cúria Metropolitana, no Correio Paulistano e no jornal italiano, a Fanfulha. “Na Cúria não tem acesso aos livros, mas eu me apresentei como universitário. Se eles pensassem que era pra fazer enredo, não iam deixar. Lá levantei que esse Tebas conhecia tudo de alvenaria com 21 anos de idade. Então ele parava todo dia em frente ao convento do Carmo, estava sempre parado ali, e um dia o padre Justino, que era o capelão lá, perguntou: ‘O que você faz ai todo dia? ’. Ele disse: ‘Fico olhando pra saber porque não tem torre’. ‘Porque a gente não sabe fazer’. Ele falou: ‘Eu sei’. O padre acreditou nele e foi lá na fazenda Taponhoem, no Paraíso, naquela região em que hoje está a Brahma, conversou com o sinhô dele. Lá ele viu um monte de obras em alvenaria e quis comprar. O sinhô disse: ‘Não precisa comprar, leva ele’. Então o escravo fez um acordo com o padre: ‘Eu construo a catedral com vocês, mas o primeiro casamento lá tem que ser o meu’. (...) As escravas iam buscar água na fonte naqueles cântaros. Eu tenho ainda esse mapa que xeroquei do jornal, parte da Liberdade e aquele Centro todo canalizado por ele. Tebas, o Escravo é o enredo. Ai os estudantes falaram: ‘Onde você levantou isso?’. Tebas pra eles é só uma cidade da Grécia, mas não sabiam que tinha um aqui. Tanto que em 25 de janeiro fiz um protesto contra aqueles painéis na Praça da Sé, que dá o nome dos autores, dos construtores. A catedral, a primeira catedral que esse negro construiu, o chafariz da Misericórdia estão expostos lá, mas não dá o nome do autor. Mas a gente sabe que era ele."

Tebas, negro escravo
Profissão alvenaria

Construiu a velha Sé
Em troca pela carta de alforria

Trinta mil ducados que lhe deu padre Justino
Tornou teu sonho realidade
Daí surgiu a velha Sé
Que hoje é o marco zero da cidade
Exalto no cantar de minha gente
A sua lenda, seu
passado, seu presente
Praça que nasceu do ideal

E praça escravo é praça do povo

Velho relógio
Encontro dos namorados
Me lembro ainda dos bondinhos de tostão
Engraxate batendo a lata de graxa
Camelô fazendo pregão

O tira teima do sambista do passado
Bexiga, Barra Funda e Lavapés
O jogo da tiririca era formado
O ruim caia e o bom ficava de pé
No meu São Paulo, oi lelê era moda
Vamos na Sé que hoje tem sa
mba de roda
No meu são Paulo, oi lelê era moda
Vamos na Sé que hoje tem samba de roda

Como outros que tiveram fundamental importância na historia do Samba e do Carnaval, ele fala disso com muita saudade, ironia e tristeza pela perda total da essência destes movimentos culturais. “O carnaval de São Paulo? Eu, graças a Deus, vi carnaval em São Paulo, porque hoje em dia é espetáculo. Os próprios sambistas estão preocupados com os carros alegóricos, que eu chamo de ‘porta-veado’. As meninas sacudindo o bumbum, a televisão não pega outra coisa, não pega ninguém sambando no pé, não se preocupa com musica. Os itens que tem ligação com o samba não estão interessando, o que esta interessando é a beleza, aquela coisa toda. Mas eu peguei carnaval quando todo mundo brincava. A gente tomava o bonde, fantasiado, ia na Cidade da Folia, que é um reduto de samba que se criou na década de 40, quando nós perdemos o direito de brincar na rua. Então levava os cordões e as escolas pra lá. (...) Não é como hoje em dia, São Paulo tinha carnaval, todo mundo brincando. Eu tenho esse material que pertence ao Estado, mas eles estavam jogando fora. Eu recolhi com o Sergio Lara e fizemos uma mostra na Casa de Cultura Mazzaropi, do carnaval de 25. Esses carros alegóricos, essas pizzas que põe mulher em cima, nessa época já tinha.”

A família sempre foi importante na formação dos grandes sambistas, a maioria gostava de grandes festas, no seu batizado foram três dias de festa, não tinha como ele não gostar daquilo. “Meu pai viveu uns tempos no Rio, então ele gostava daquele negócio. Ele dizia: ‘Lá no Rio sai 30 cuíca na escola, 40 surdo, tantas malacacheta. E vocês aqui com esses couros de gato?’ Eu e o Zeca esfolava uns bichaninhos para empachar tamborim. Zeca da Casa Verde, meu parceiro de sempre, desde criança que a gente ta junto. Então eram aqueles tamborins quadrados. Não tinha tarraxa, era tachinha e fogo e dá-lhe jornal. De vez em quando procurava: ‘Cadê fulano que não ta tocando?’ Ele estava esquentando o surdo lá atrás da escola.”

“Mulheres ligadas ao samba da velha guarda: a falecida Sinhá, dona Eunice da Lavapés, dona Olímpia do Bixiga, Donata, que foi a primeira-dama do samba, era a mulher que puxava o samba na avenida, do tempo sem microfone, lá da Barra Funda. A Donata lembra tudo que cantava nos cordões, desde muitos anos. Ela era o gogó da avenida, vinha no meio da ala passando o samba pra todo mundo. (...) Agüentava, tranqüilo, aquelas nega veia agüentava. Pra que você pensa que eles mantêm a Ala das Baianas? As bonequinhas só rebolam, as baianas seguram o repuxo. É nega acostumada a cantar em terreiro. (...) A primeira escola de samba foi a Lavapés, da Madrinha Eunice, que está viva até hoje, com 82 anos ainda está comandando a escola dela. Sua benção, Madrinha Eunice, pioneira do samba em São Paulo, axé, minha tia.”

“O Cordão do Vai-Vai! Eu gostava de ver o Cordão do Vai-Vai. Cordão é uma modalidade diferente. Por sinal, só teve em São Paulo e Rio Grande do Sul. É batuque pesado, mas a divisão na boca é marcha. A gente chamava de marcha sambada. O carioca está fazendo hoje, mas a gente já fazia antigamente. É a marcha sambada. (...) Não é bem que eu fiz para varias. A minha bandeira é a bandeira do samba. Na escola em que eu estiver, eu defendo ela mesmo pra valer, ta me entendendo? Lá no Peruche, eu tive a felicidade de apresentar enredos e ganhar o samba, nessa altura o samba já estava na cabeça e ninguém ganhava mesmo. Tradições e Festas de Pirapora é exatamente onde o pessoal saía daqui pra fazer o samba lá, em Pirapora, porque ali estava proibido e era permitido lá nas festas de santo.”

Seu samba-prece Silêncio no Bixiga, homenagem ao amigo Pato N´Agua, morto misteriosamente, até hoje é um hino de todos os sambistas paulistanos:

Silêncio, o sambista está dormindo
Ele foi, mas foi sorrindo
A notícia chegou quando anoiteceu
Escolas, eu peço o silêncio de um minuto
O Bixiga está de luto
O apito de Pato n'água emudeceu

Partiu, não tem placa de bronze

Não fica na história
Sambista de rua morre sem glória
Depois de tanta alegria que ele nos deu
Assim, um fato repete de novo

Sambista de rua, artista do povo
E é mais um que foi sem dizer adeus.

“O samba vai bem, as escolas vêm se desenvolvendo, vêm crescendo. Mas eu estou sentindo que eles estão esquecendo do samba, a origem, a raiz, o pé no chão, aquele samba bonito que o povo canta junto com as escolas. Faz já um certo tempo que eu não ouço o povo cantar com uma escola. Pegar um samba, logo que a escola entrar, cantar as três vezes, sem bateria. Quando ela entra na passarela, o povo tai cantando junto. Então estou sentindo falta disso. Eles não estão muito preocupados com isso. Estão preocupados com o visual, com aquela coisa toda. Mas ele continua crescendo.”

Que gente é essa

De pé no chão

Que tem no canto

Sua forma de expressão?

Canto na travessia

O seu triste lamento

Para amenizar

Tanta dor e sofrimento

Que canto lindo

Na plantação

O rei escravo cantou

Na mineração

Rezou cantando

Ao pai Oxalá

Agô-gegê e iorubá

Eparrei!

Oiá oiá vem nos ajudar

Kaô Kaô Kaô iorubá

Depois surgiu Palmares

Sua confederação

E um canto livre

Vem lá do sertão

Cantou na capoeira

No tronco cantou e gemeu

Ela cantando embalava

Um filho que não era seu

Hoje essa gente sofrida

Vem dos morros e favelas

Mas traz um canto divino

Que ilumina a passarela. Quem é?

É o canto negro, sinhô

É o povo negro, sinhô

É a liberdade, sinhô.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Seu voo paralelo

Para Daniela

Quando o verso se propõe
Em transparência e peso,
Muitas palavras são
Naufrágios de outros sítios.

Gosto de pássaros.
Por isso minha retina seca
No seu voo
Paralelo.
Me faz um pouco de asas
Do verão que agora nasce.

O tempo é verde.

Plantarei um dia o tempo no mar.
E brotará doce e triste
O brasil dos seus olhos.

Tão
Lento que me afoga
Nessa rede de descanso,
Vento que me afaga
No sal branco do rochedo.

Tenho, sim, mãos de colher palavras.
Mas a dor delas reunidas
Invade minha vida
No plantio agudo
Do eito contra as águas.

Essa noite
Dormirei
Ao seu lado
O arado da manhã.