segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Breve Historia da MPB (1a. parte)

Estou sempre discutindo o porquê da minha insistência e prazer em ouvir, conhecer e estudar os nomes históricos de nossa MPB, em que se destaca, ao meu ver, o Samba Carioca e o Paulista. Tentarei explicar esse porquê, começarei por uma simples relação e um pouco da história de alguns gênios de ritmo, voz, melodia e letra/poesia que surgiram entre as décadas de 20, 30 e 40.

Pixinguinha, o maior músico da história da MPB, tocava diversos instrumentos com desenvoltura, especialmente a flauta e o saxofone; escreveu dezenas de músicas, como, por exemplo, Carinhoso, uma das composições mais conhecidas e tocadas em nosso país; fez incontáveis arranjos durante o tempo que trabalhou como orquestrador para gravadoras brasileiras; foi quem transformou o chorinho num estilo musical, estilo comparado ao jazz estadunidense pela capacidade de improvisação.

“Mas eu acho que o choro, acima de tudo, assim, de uma forma parecida com o jazz, é um espírito, uma maneira de tocar, de frasear, de sentir a coisa da improvisação, por exemplo, que existe nas duas músicas, mas que é muito diferente numa e na outra. É, o choro tem muito mais... A improvisação é menos ... A improvisação no choro é uma coisa muita mais rítmica (...) Cada vez se descobre que ele é maior do que se pensava. E eu acho que isso é interessante pro brasileiro ficar mais ligado e também sentir um pouco uma dimensão mais ampla, mais universalizante da coisa, da figura, porque o Pixinguinha é grande demais, tem que ser muito estudado e muito tocado, tem muita coisa para fazer sobre esse assunto (...) E teve uma vida toda muito interessante. Eu acho que foi um sujeito fiel a tudo que gostava, que acreditava, a coisa das raízes africanas, foi o cara que fez a síntese do choro, um dos pais da orquestração no Brasil, um monte de coisas.” Henrique Cazes, Programa Ensaio, TV Cultura, 1993.

“Em 1971, um daqueles momentos que levavam seus amigos e considerá-lo santo: sua mulher, dona Beti, passou mal e foi internada num hospital. Dias depois, foi ele acometido de mais um problema cardíaco, foi também internado no mesmo hospital, mas, para que ela não percebesse que também estava doente, colocava um terno nos dias de visita e ia visitá-la como se estivesse vindo de casa. Dona Beti morreu no dia 7 de junho de 1972, aos 74 anos de idade, e ele no dia 17 de fevereiro de 1973.” Pixinguinha, Vida e Obra, Sérgio Cabral.

Pixinguinha gravou, em 1968, o disco intitulado Gente da Antiga, com a presença de João da Bahiana, um dos pais do samba, que foi quem introduziu o pandeiro no samba e um dos maiores ritmistas do prato com faca, que nada mais é que tocar um prato de barro com uma faca de serra, extraindo disso uma sonoridade ímpar. Nos poucos discos que conseguiu gravar, sempre privilegiou os ritmos africanos, gravando corimás, com algumas palavras em dialeto africano, pontos de macumba de sua autoria, macumbas como Sereia e Folha por Folha e ritmos afro brasileiros como Lamento de Inhançã e Lamento de Xangô. Se não bastassem esses integrantes, o disco contou com a presença imponente de Clementina de Jesus, a mais impressionante voz já existente na música brasileira, descendente de escravos, pode-se dizer que sua voz era a ligação entre a senzala e o samba, África e Brasil. “Ficou conhecida como a Rainha Ginga ou Quelé, a primeira homenagem foi dada devido a sua importância e grandeza na música popular, e a segunda devido à corruptela carinhosa de seu nome. (...) Seu pai foi mestre de capoeira e violeiro. Com a mãe, aprendeu os cantos de trabalho, partidos-alto, ladainhas e jongos, assim como corimás e pontos de macumba. Trabalhou muitos anos como empregada doméstica e somente aos 63 anos começou a carreira artística.” Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. O disco foi gravado em apenas duas semanas, contava com músicas de domínio público que abordam temas das religiões africanas, sambas e choros consagrados, executados com maestria e total harmonia entre os músicos e cantores, pode ser visto como uma apresentação de luxo para quem quer conhecer os estilos, um dos maiores clássicos da MPB.


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