terça-feira, 28 de julho de 2009

Aboio das águas

O bom do caminho é haver volta. Para ida sem vinda basta o tempo.
Mia Couto

Quando nasce a minha dor
pássaros levantam avôo
e um aboio canta longe.

O princípio mais sereno dos seus olhos
É chover a multidão dos meus sonhos.

Quando nasce a minha dor
o gado move lento
seu peso num tempo próprio.
De atravessar,
O pasto não viu o mar.

O meu roçado, onde firo a terra,
são águas do oceano,
que tardam o tempo tão triste,
e colhem o peixe maduro.

Ooooooo eh eh eh ei

Vaqueiro de águas mais fundas
Fruto de rochas da encosta
Seu filho, um nome de pedra
No vento, uma filha falha.

Ooooooo eh eh eh ei

A língua da onda cheia
Cala-se pra escutar
O aboio.

O silêncio põe o vento
Levando na roda o canto.

Na pedra mais alta
Pássaros cercam as palavras
Que você largou ao sol
Para um dia tornarem-se laço,
Rede, tecido, texto.

Quando volto a minha dor
A jangada já amarrou o dia
Então sei que toda estrada
É um caminho de aproximar.

O campo do oceano
Amansa o gado das marés.
Enquanto o mundo entranha,
Levo a boiada da vida.

Ooooooo eh eh eh ei!

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