sábado, 16 de maio de 2009

Garrincha

A bola é o ponto.
Seu corpo, a fuga.
Entre a bola e o corpo
A angústia do improvável
Drible, cancha do que há de vir.

Giros
Galo que dança
Em acasalamento mágico,
Seu corpo desenha
A linha efêmera
Que se desfaz
Ao susto lúdico
Da operária cansada
No silêncio cotidiano
Do trabalhador.

Então no vão do êxtase
Entre o espantalho e o pássaro
A angústia do devir
Clama uma solução plástica
Ao movimento.

Seu riso suspenso
Em imagens antigas de tv e cinema
Traç0u no gramado agora pardo
Sempre por uma direita confusa
Sinistra no que tem de fantasia
A alegria não domesticada
Da lei que já é velha
Quando a finta

Se impõe.

A bola é o ponto.
Seu corpo, a fuga.
E suas pernas tortas
São os instrumentos
De enganar bois
Arrastados para a morte
Nessa cancha aturdida
Da existência comum
-Perdida, imersa!-
Entre dois gols.

Um comentário:

Luiz Claudio disse...

Lendo isso lembrei daquela ótima complicação do Nelson Rodrigues, feita pelo Ruy Castro, A Sombra das Chuteiras Imortais. Se achou agora né Fiori. Valeu.