domingo, 2 de outubro de 2011

Todos os dias

Para a água de depois
tenho a xícara ao lado...
a chuva lá fora
dispersa no tom absoluto
de cada lâmpada instável
dos postes da rua.

Que tempo absurdo é esse
em que para chorar
lágrimas são proibidas ?

Gota de sal
que escondemos
no bolso
do casaco
inseguro.

Para a água de depois
os cacos da xícara pelo chão
denunciam minha embriaguez.

Nas mãos mudas
a voz da poesia.

Voo de pássaro
sem sustentação
do ar
é arremesso de corpo
para o nada.

E ando como pedra lançada
no coração da noite.

Os estilhaços da xícara
magoam o horizonte.

Que tempo é esse em que é preciso amanhecer
com corte imposto?

Gole a gole tomo o chá preparado.

Pela manhã a vida avançará sem desvios
em direção à certeza
- no fim do dia no fim das coisas -
de um sol ausente.


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