sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

passeata

os passos que dei ontem
vêm cheios dos meus silêncios
mal medidos

no canteiro dessa avenida bruta
ou vendo os peixes que adormecem no chão
meus pés descansam

não há movimentos ou perguntas
posto que o dia foi bravo
o dia preparou a maciez da noite

há sempre possibilidades no meio da tarde
alguma luz que recupere a esperança
de que a liberdade ainda rebente

mas está longe e morre a cada eleição
a cada discurso montado
a cada recado da mídia

a liberdade é o silêncio
dos passos que dei ontem
cuidem de mim

eles não precisam de voz
imagem
ou aplausos

navegam o mar dos dias
e abrem amplo espaço
do continente

adormecem como esses peixes
plantados adiante
dentro da terra

e nadam ao curso de cavernas subterrâneas
quando querem ser livres
aguardam a chuva

para brotarem do solo
como palavras na manhã
em campo novo

e seus frutos serão o rio
comprido imenso
que passa ao lado

ainda que não sintamos
nem a umidade nem o sabor
nem a paz

do seu leito.

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