terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Breve Historia da MPB (4a. parte)


Por um momento retorno a 1870, ano em que chega ao Rio de Janeiro, Hilaria Batista de Almeida, mais conhecida como tia Ciata, nascida no dia 23/4/1854, em Santo Amaro da Purificação, Bahia; cozinheira, sempre garantiu parte do sustento de sua família graças a seus famosos quitutes; fundou o Rancho Rosa Branca, um dos primeiros a existir no carnaval [rancho é o tipo de organização carnavalesca anterior a escola de samba]; filha-de-santo de João Alabá, de Omulu, como suas amigas tia Sadata (fundadora do Rancho da Sereia), tia Amélia do Aragão (Amélia Silvana de Araujo, mãe de Donga), tia Preciliana do Santo Amaro (Preciliana Maria Constança, mãe de João da Bahiana), tia Mônica, tia Bebiana e tia Gracinda (esposa do sacerdote islâmico Assumano Mina do Brasil). Em 1904 fixou residência na Rua Visconde de Itaúna, 117, em frente à Praça Onze, onde morou até morrer, em 1924. O casarão era uma legítima casa de cômodos, com seus 6 quartos, 2 salas, um longo corredor e quintal com árvores. Foi ali que escreveu seu nome como a figura de maior importância na criação do samba.

“A partir dos anos de 1870, na região que se estendia da antiga Praça Onze de Junho até as proximidades da atual Praça Mauá, compreendendo as antigas freguesias e localidades de Cidade Nova, Santana, Santo Cristo, Saúde e Gamboa constituía-se o núcleo principal da comunidade baiana na cidade do Rio de Janeiro, antiga capital do Império e mais tarde da República. Pólo concentrador de múltiplas expressões da cultura afro-brasileira, da religião à música, a região tinha como centro a ‘Pequena África’ (expressão usada pelo escritor Roberto Moura, baseado numa afirmação do artista Heitor dos Prazeres, segundo a qual a Praça Onze seria ‘uma África em miniatura’), berço onde se gerou o samba em sua original forma urbana.” Nei Lopes.

Tia Ciata realizava grandes festividades em sua casa, associadas às comemorações religiosas, pois também tinha sua casa de candomblé; desses festejos participavam todas as tias filhas-de-santo como ela, mais outras amigas como tia Veridiana (mãe de Chico da Bahiana), tia Dada, tia Josefa Rica e tia Tomásia, todas respeitabilíssimas Tias baianas, verdadeiros “úteros” geradores do samba. “Interessante notar que o tratamento 'Tia' é um misto de respeito e carinho usado para designar figuras que, pertencentes ao Candomblé, sobretudo de origem em Angola ou Congo, têm conforme preceitos religiosos, um certo grau ou muitos anos de iniciação, é um tratamento próximo ao de Mãe (Yalorixá).” A Mulher na MPB, Neusa M. Costa. Também eram presença garantida "os bambas" da época como Pixinguinha, Donga, João da Bahiana, Hilário Jovino Ferreira, Heitor dos Prazeres, Sinhô, Caninha, Didi da Gracinda, Marinho que Toca (pai do compositor Getúlio Marinho), Mauro de Almeida, João da Mata, João Câncio, Getúlio da Praia, Mirandella, Mestre Germano (genro de Ciata), China (irmão de Pixinguinha) e Catulo da Paixão Cearense. Foi neste ambiente, onde se juntavam fundadoras de Ranchos, conhecedoras de diversos ritmos e sons africanos, mães e avós de grandes compositores e ritmistas e esses “bambas” que nasceram, se criaram e tornaram parte deste meio, que surgiram diversos sambas, entre eles‘Pelo Telefone’, festejado como o primeiro samba gravado na historia.

“A figura de Tia Ceata surge nos textos como realmente a figura propiciatória, aquela que cria condições para que ajam as forças da Natureza, tal qual age a Mãe de Santo, Yalorixá, no culto africano: sua ação não é de criar ou gerar, ela própria, mas sim a de favorecer, de participar com seu instinto, ‘força de axé’ e conhecimento do ato de criação.” A mulher na MPB, de Neusa M. Costa. “Rancho que saísse e não fosse à casa da Asseiata, não era tomado em consideração, era o mesmo que não ter saído. Os sambas na casa de Asseiata eram importantíssimos, porque, em geral, quando eles nasciam no alto do morro, na casa dela é que se tornavam conhecidos da roda. Lá é que eles se popularizavam, lá é que eles sofriam a critica dos catedráticos, com a presença das sumidades do violão, do cavaquinho, do pandeiro, do reco-reco e do ‘tabaque’.” Na Roda do Samba, jornalista Vagalume.

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