segunda-feira, 5 de julho de 2010

Segredo antigo

As árvores naturais
Que agora me cercam
Sabem que um dia
Enterrei ao pé delas
Uma nota de cinco cruzeiros.

A tarde era diáfana.
Escolhia folhas
Para aquecer do frio,
E os reflexos dos raios de sol
Reverberavam nelas,
Mantendo a integridade das coisas.

Sequer tinha visto uma tarde como aquela.

As árvores naturais me viram menino
Achando que enterrava um segredo
No campo da escola.

Me parecia,
Freirinhas deslizavam
Sem pés
Pelo plano,

Terra de inverno.

Na língua que então carrego,
E que marcou de saudade
Os meus dias brasileiros,
Todo plano se fez chão.

As freiras esculpiram a esperança
Caminhando indiferentes
Na minha infância.

E não perceberam que eu voltei ao mesmo lugar
Onde pus a nota
Para ver se ela ainda estava lá.

Às quinze horas ajeitei o blusão.
Nas mãos sujas, rasguei o dinheiro
Que eu havia redescoberto da terra
Que o recolhia...

As árvores naturais
Sobranceiras
Pelo caminho da minha vida
Sabem.

A minha esperança continua lá,
Ficou até hoje,
Entardecida,
Fotografia que se vela novamente.

4 comentários:

Luiz Claudio disse...

Grande, grande texto, Sr. Fiori.

abraços.

Mari Stumpf disse...

A minha esperança também, continua lá. Naquele abraço.

A terra ainda acolhe ternamente meu sentimento.

Você me dá uma saudade.

Se cuida, poeta!

Fernanda Rodrigues de Miranda disse...

a bença, fazedô de água doce.

que texto lindo você escreveu.
É desses que a gente copia, cola no word,imprimi, e usa como marca-página permanente do nosso mais íntimo livro do Drummond.
(sabe desde já que nunca haverá outro igual)

tenho saudades Fiori.
até amanhã.

Anônimo disse...

Dô-te a benção, minha irmã na vida.