segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sono tranquilo

Meu leiteiro tão sutil /de passo maneiro e leve - Drummond


O vento colhe a vela.
O mar recolhe o verso.

Meu país dorme com tiro.

O menino voa pelos varais.
Riscos na noite não são
Riscos de estrelas.

O fim do morro vê o horizonte
E os pássaros lá deixados.

A paisagem desesperada desmente
O que se propaga à nação.

O país cai. Toda tarde.

E a noite propõe escape
Longe das armadilhas.

Toada da tarde.

Mas desta, o menino não escapou.

Ao lado dos chinelos,
A geografia do seu corpo
Ensina...
É mapa aberto no chão.

Apaguem as estrelas.
O fim do morro recorta o oceano.
E o pássaro lá deixado.

O país está dormindo agora.
Está dormindo com um tiro.

2 comentários:

Fernanda Rodrigues de Miranda disse...

Se ao menos aquele cristo estivesse de braços cruzados

ou se o apagão tivesse sido resultado de um mero problema técnico

Se ao menos o aborto consentido e estimulado das mulheres de favela da cidade maravilhosa fosse conquista feminista, e não extermínio calculado da população

Ou se a programação para o mês de novembro do sesc madureira não incluísse "café servido por mucama para relembrar os áureos tempos coloniais" (vcs viram isso?)

Nós não precisaríamos cultivar baleias no estômago, pra alargar, nem cururus na garganta, pra esquecer.

Pois bem, se apagarem a luz, cada qual com sua lanterna. Se acabar a pilha, recorramos às velas, se elas sucumbirem, nós seduziremos os vaga-lumes.
O que importa, Fiori, é estarmos alertas.
Sermos como seu poema.

"ô mé dá meu boné
que eu já vou m'embora
porque
brincadeira tem hora"

Gole d'água no seu coração.
Fernanda

Mari Stumpf disse...

Eu já lhe disse que um grande poeta é o tesouro de uma nação, não disse?

Ah, você...que anúncia, denúncia!

Tesouro do Brasil e meu.

Enxerga mais profundo, este mundo tão injusto e cego. Pois é.

abraço carinhoso e fraternal,

Mari