quinta-feira, 17 de junho de 2010

Armazém

Se tudo parecia assim
palavra pesada a quilo
vendida a granel
na sacaria insossa

É que eu ainda menino
me punha na penumbra
do armazém
e ficava tentando entender
por que as aranhas
faziam teias no teto
tão alto, alto.

Me escondia atrás do sal.

As vozes negociavam com meu avô.
Laconicamente, o balcão envelhecia.
Madeira.

Às vezes chovia
e eu dormia esquecido
num vão
entre fardos de milhos
e grandes latas de querosene.

Alguém comprou minha infância em espécie.

(anjo bom anjo mau)

E espalhou as sementes
nos campos da tarde.

No mato de Itapetininga.

2 comentários:

Unknown disse...

Que bonito! Delicado e triste, dá pra sentir o ambiente do armazém.
Abs,
Ligia

Neiva Corrêa disse...

Simplesmente tocante... bejos