(A mensagem acordou um poema triste)
Preso em exata posição
Anterior ao asfalto
O animal separa o que existiu
Do momento preciso a atravessar
A pista, o ato de instinto,
Sua decisão.
É navegar terra não propícia
Vestida de piche e pedregulho.
Falsear o campo seguro
Das ervas.
Mas tem que se transpor
Não sei por qual gosto
Um rio assim de perigo
O solo quente do dia
Que se foi.
O focinho apontando o outro lado.
E o vento na tarde-noite
Cortando a entrada do mato!
Paira um certo quê de embriaguez
Na estrela posta primeira
No plano azul do céu.
Antes de todas.
Vem com a tarde, vem com a tarde.
Um pássaro acusa
No pio sonoro
A travessia
Vazia de planejamento
Movida por ação pontual
Do bicho.
Seus passos não se medem.
Acontece um coletivo
Despontando sem entrave
Velocidade de seta.
A gente que ele carrega
Carrega consigo as mãos
Do cansaço cotidiano
E na terra produtiva
De esforço, prisão e fome.
Ônibus do roçado
É rural da solidão
Entregue ao silêncio
De quem não pensa a vida.
Porque são braços,
Suor e faina
Seus pensamentos.
Vem com a tarde, vem com a tarde.
Quase noite.
Então, no encontro perpendicular
Do coletivo
Com o animal,
O choque pairou no cosmos
Penderam, nas nuvens, o grito, ganido ou guincho,
Pedras deram flores
O curso d’água correu inverso.
O indivíduo agora é horizonte, pasta e sangue.
A noite pintou de escuro a engrenagem assassina.
Só não escondeu seu ronco
Que, aos poucos,
Perdeu-se no tempo de seu canto.
No interior, sentados,
Mulheres e homens
Mergulham a cabeça
No sono,
Mãos dadas ou não,
Princípio da morte de todos os dias
Na terra que um dia
Enfim
Irá colhê-los.
O bicho já não mais navega o chão.
É ilha cercada de vermelho por todos os lados.
(hoje não vi as borboletas
azuis
que estendem o fio da vida
por entre os taquarais
da manhã)
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
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"O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente."
Carlos Drummond de Andrade
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